- Tech 28.jan.2025
DeepSeek: tudo que você precisa saber
De questões geopolíticas ao exagero (ou não) do hype
Estamos testemunhando uma nova Guerra Fria, mas desta vez o campo de batalha é digital. O lançamento do DeepSeek pela China não é apenas mais um marco tecnológico – é uma demonstração de poder que redefine o equilíbrio global em inteligência artificial. O mais impressionante é que foi desenvolvido com uma fração dos recursos que as empresas americanas consideram essenciais pra produzir esse tipo de modelo de IA.
Com US$ 5,5 milhões, o DeepSeek abalou gigantes que investem bilhões
Enquanto o DeepSeek foi desenvolvido com aproximadamente US$ 5,5 milhões, gigantes americanas investem bilhões em infraestrutura. O projeto Stargate, uma colaboração entre OpenAI e parceiros, prevê investimentos de US$ 500 bilhões. Esta disparidade levanta questões cruciais sobre eficiência e inovação. Como uma startup chinesa conseguiu equiparar-se aos líderes do mercado gastando tão menos? É o que todo mundo quer saber – e o que levou a uma desvalorização bilionária em gigantes de AI essa semana.
Se você já testou o DeepSeek, deve ter ficado impressionado com o modelo de raciocínio dele, o DeepThink. Essa capacidade de “pensar em voz alta” é impressionante, mas não é exatamente uma inovação – na verdade, o ChatGPT o1 foi o primeiro a lançar esse tipo de modelo, há alguns meses. O verdadeiro diferencial no caso do DeepThink está na democratização: um modelo de código aberto, 100% gratuito.
Um dos meus jornalistas de tecnologia preferidos, o Casey Newton, disse o seguinte sobre o barulho que o DeepSeek está causando:
“Para os céticos com IA, é a prova do desperdício do Vale do Silício. Para os entusiastas da IA americana, é um alerta vermelho sobre a velocidade do progresso chinês. E para aqueles que se preocupam com a segurança da humanidade frente ao desenvolvimento da IA, é a materialização de nossos piores receios sobre uma corrida tecnológica sem freios. ”
E eu concordo. Isso porque no centro deste debate está a AGI – Inteligência Artificial Geral. A AGI, cujo desenvolvimento é questão de tempo, não significa apenas chatbots mais eficientes, mas de sistemas com capacidade de compreensão, aprendizado e resolução de problemas melhores que as de humanos. As implicações são vastas: da revolução no mercado de trabalho à transformação fundamental de como tomamos decisões como sociedade. Parece exagero, mas a verdade é que o vencedor desta corrida terá em mãos o poder de moldar o futuro da humanidade.
O DeepSeek prova que a inovação não precisa de fortunas para prosperar
Os riscos são proporcionais às possibilidades. Uma AGI desenvolvida sem as devidas precauções de segurança poderia representar riscos existenciais para a humanidade. Estamos falando de sistemas que poderiam, teoricamente, superar a capacidade humana em praticamente todas as áreas. A corrida entre China e EUA torna esse cenário ainda mais complexo.
O código aberto do DeepSeek é revolucionário, mas vem com contradições interessantes. Enquanto oferece transparência técnica sem precedentes, o modelo apresenta limitações significativas em temas sensíveis para o governo chinês. Tente perguntar sobre a Praça da Paz Celestial ou campos de detenção de Uyghurs – o silêncio é ensurdecedor. Não que o ChatGPT ou o Gemini também não tenham seus vieses. Tá, mas vamos falar de uso prático.
O DeepSeek é tão melhor assim?
Olha, a verdade é que, pro uso cotidiano, você quase não vai notar diferença entre ele e o ChatGPT ou o Claude. Ele inclusive demonstra limitações em tarefas criativas complexas e análises que exigem nuance cultural – como me ajudar a escrever esse texto, coisa que o ChatGPT e o Claude fizeram sem crise. Mas sua existência prova algo crucial: a China não apenas alcançou a fronteira tecnológica em IA, mas encontrou caminhos mais eficientes para inovar.
A supremacia em IA entrou em uma fase mais complexa e imprevisível
O DeepSeek demonstra que as restrições americanas à exportação de chips avançados podem ser contornadas com inovação. É um recado claro sobre a nova ordem mundial que está se desenhando no horizonte tecnológico. Me perguntaram se é seguro usar, em termos de proteção de dados. Meu palpite, por enquanto, é que é tão seguro quanto qualquer outra IA ou serviço digital com o qual a gente divide dados sensíveis todos os dias: não muito, provavelmente, mas a gente usa mesmo assim. Pode, no entanto, ser mais sensível usar esse modelo se você introduzir ali dados sensíveis relacionados a operações corporativas de empresas americanas – então consulte sempre a política de uso de IA da sua empresa antes de usá-lo para questões profissionais.
Pra mim, no fim, o DeepSeek é muito mais importante no que ele representa do que no impacto prático dele, hoje. Por isso, é preciso continuar observando e acompanhando o desenvolvimento da ferramenta com cautela e curiosidade (como eu recomendo e faço com todas as IAs). Não é um lançamento que vai mudar tudo quando se trata do seu uso prático, mas agora todo mundo tem acesso a um modelo com raciocínio de graça – o que deve impactar e acelerar o desenvolvimento de soluções via API. O impacto maior é mesmo econômico e, principalmente, geopolítico. É um sinal claro de que a corrida pela supremacia em IA entrou em uma nova fase, mais complexa e imprevisível.
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