Cannes Lions 2024: “Quando Mira vai se casar?”
As vozes femininas que marcaram o Festival
A primeira palestra lotada do festival Cannes Lions, esse ano, envolvia duas grandes celebridades do mercado: o host David Droga e a convidada/entrevistada Mira Murati, CTO da OpenAI. Mira foi e é responsável pelo desenvolvimento do ChatGPT e, logo no começo, contou como era difícil para sua família entender o que era a ferramenta antes do lançamento. No dia em que o mundo conheceu o ChatGPT, sua irmã foi logo mostrar para a mãe delas e, explicando como funcionava, disse algo como: “Pode perguntar qualquer coisa, mãe.” A pergunta da mãe foi: “Quando a Mira vai se casar?”
Essa pergunta revela não apenas o caráter de magia que algumas pessoas atribuem às respostas do ChatGPT, mas principalmente o que é ser mulher no mundo e no mercado de trabalho em 2024. Mira é alta, bonita, padrão, CTO, mas a mãe dela quer mesmo é saber quando ela vai se casar.
Outro talk que leva a grande reflexão sobre a condição feminina foi o da Maria Ressa, vencedora do Nobel da Paz de 2021. Sua luta pela democracia e pela valorização do jornalismo como fonte confiável de informação a levou à prisão algumas vezes e sua vida é marcada por conquistas e prêmios. No entanto, para atacá-la na internet, seus haters usam sua aparência física. Foi, ao mesmo tempo, chocante e bonito ver no telão ela colocar montagens humilhantes que haters fizeram usando seu rosto, o que incluía uma imagem sua em cima de um órgão sexual masculino. Foi chocante pela imagem, mas foi absolutamente lindo ver a sua coragem de se expor e a maneira muito elegante e inteligente com que ela mostra o ridículo da lógica do hate digital.
Se, para Mira a inteligência artificial é uma ferramenta que, à medida que se desenvolve, impulsiona e potencializa as nossas qualidades, para Ressa ela personaliza a nossa experiência a ponto de nos distanciar, deixando cada um de nós viver, cada vez mais, a nossa própria realidade que, na maioria das vezes, é completamente diferente da realidade do mundo. Uma frase de Ressa que me marcou muito foi: “Sem fatos, não há verdade e, sem verdade, não há confiança.” O que seria da relação das marcas com seus consumidores sem confiança?
Enfim, duas mulheres que abriram (Mira no primeiro dia) e fecharam (Ressa no último dia) o festival e que têm vidas e realizações mais extensas do que os 30 minutos de palestra que o Cannes Lions propõe, mas cujas obras e pesquisas estão disponíveis online e com certeza merecem atenção.
Ah, nesse festival também teve o Elon Musk, mas, de verdade, quem se importa?
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