Breaking news: e se Cannes e as marcas não existirem em 2050?
Projeções para chamar a atenção daqueles que são parte do problema e também da solução
“Devido às fortes chuvas da semana passada e da elevação do mar decorrente do degelo de um grande iceberg no pólo norte, o Festival de Cannes informa que o evento foi cancelado. Apesar de nenhuma casualidade, o Palais foi completamente tomado por água. O histórico palco que já recebeu estrelas de cinema e as mentes mais criativas do mundo, está totalmente inundado”.
A notícia é distópica, mas não impossível. Pensei nisso enquanto assistia ao keynote das Nações Unidas no Festival, em parceria com a The Weather Company.
O conteúdo começou com o pequeno Deon Gjoni, criador de conteúdo e ativista climático, que fez um alerta atentando para o seu próprio futuro, afinal, ele é apenas uma criança. Derek Van Dam, o meteorologista da CNN, trouxe o impacto do aumento de temperatura nos oceanos e na vida marítima sob uma perspectiva local: 2023 é o ano mais quente da história, e 2024 deve ultrapassar esse recorde. Os dados projetados foram apresentados como se fossem os degraus da famosa escadaria de Cannes, e o patamar a que a água pode chegar até 2050 é assustador.
Essas projeções foram uma forma de chamar a atenção daqueles que são parte do problema e também da solução, o mercado publicitário e marketeiros, que têm o poder de serem os catalisadores da mudança, atuando de forma sustentável com suas marcas e conscientizando o público.
Mas o chamado também buscou um tom positivo, apesar dos dados alarmantes. “Ainda há tempo e muitas possibilidades de fazer essa transformação através da inspiração”, disse Boaz Paldi, o CMO da ONU. A campanha The Weather Kids, em que meteorologistas do The Weather Channel foram substituídos por crianças preocupadas com seu futuro é um exemplo disso.
Randi Stipes, CEO da Weather Channel, refletiu sobre a importância não só de prever o tempo para daqui uma semana, mas também prever onde e como estaremos em 2025. Uma grande responsabilidade que conta com tecnologia e, claro, inteligência artificial, como aliados. O plano da companhia é democratizar ainda mais as previsões, usando tecnologia para gerar forecast em real time em lugares remotos, que estão vulneráveis e precisam de informações, afinal, populações destas áreas correm risco e infelizmente os acidentes climáticos vão se multiplicar. E, adivinhem quem fará isso acontecer? O investimento em IA.
Há décadas, a The Weather Channel já usa machine learning diariamente, mas a IA generativa vai trazer mais expertise e acuracidade. Como uma estudiosa e entusiasta da inteligência artificial, também fiquei refletindo sobre como um festival com a magnitude de Cannes também pode usar a tecnologia para ser ainda mais sustentável e ser um agente de mudanças: o volume de voos vindos do mundo todo pra cá, gastos com água, os desperdícios de comidas e até o plástico dos crachás: para um Festival que pensa e discute o futuro, será que Cannes também não deveria estar repensando a sua real existência daqui para frente?
Também me questionei se a própria existência das marcas não será afetada pelas mudanças climáticas no futuro, o que CMOs estão fazendo para garantir entender não só o papel das marcas em incentivar e influenciar novos comportamentos, mas o que as mudanças impactarão na sustentabilidade de determinado produto ou serviço. Uma pena que isso não tenha sido discutido, já que seria uma forma de realmente gerar um alerta para nós, profissionais da indústria. É preciso um chamado urgente para trazer as estratégias de ESG para o centro do marketing.
E digo urgente porque, apesar de ser o tópico do momento e ser realmente importante, a palestra estava longe de estar lotada e não parecia ser a preferência do público. O horário bateu com o início da fila para ver Elon Musk em outro painel. Achei curioso o fato de que muitos preferiram assistir ao homem que quer fazer o ser humano sair da Terra para conquistar outros planetas, que nem sabemos se são plenamente habitáveis, enquanto havia uma sala vazia discutindo o futuro do único que temos por enquanto.
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