Assim que voltei do SXSW, saí para jantar com alguns amigos. Uma das primeiras perguntas que me fizeram foi: “E aí, conseguiu todas as respostas que precisava? Já sabe como vai aplicar no trabalho tudo que viu por lá?”. Na sequência, outra pergunta: “Conta todas as novidades que você ouviu por lá! Muitas coisas novas? Deve ser, né! Senão, não seria o maior festival de inovação do mundo”.
Então, lá vou eu com meu belíssimo balde de água fria: “Não, eu não voltei cheia de respostas, nem com um livro de novidades e muito menos sabendo como vou aplicar tudo no trabalho amanhã”. Isso significa que o evento não serviu para nada? Não, muito pelo contrário. O SXSW me fez voltar repleta de perguntas, com várias novas visões sobre conceitos e ideias que eu já conhecia e com muitas possibilidades de caminhos para o setor que eu atuo.
Nós fomos educados a ter uma visão de que só o que tem utilidade imediata tem valor. De que precisamos ter um retorno mensurável sobre o investimento. E, em muitas situações, claro que precisamos olhar para o retorno gerado e para as aplicações práticas. Mas, quando estamos falando de discussões sobre inovação, criatividade, desenvolvimento e aprendizagem, a bagagem que você traz de volta tem muito mais a ver com novas conexões que você consegue fazer entre diferentes ideias e novas perspectivas sobre um tema já conhecido.
Então, quer dizer que não teve nenhuma novidade? Claro que teve! Pelo menos para mim, não foi nada trivial ouvir Amy Webb falando de biocomputadores a partir de células do cérebro humano. Mas, na minha opinião, a maior parte não é sobre isso. Muitas vezes vemos temas que não são novidade, mas que nos sensibilizam de uma forma diferente, que ganham uma nova camada de complexidade com as discussões que ali acontecem. Alguns conceitos e ideias são apenas solidificados e vão ganhando corpo dentro de nós, além de se conectarem com outros que também já conhecíamos, mas não relacionávamos.
Inclusive, algumas das sessões mais disputadas nada tem a ver com tecnologia, futurismo ou algo que você possa aplicar no trabalho no dia seguinte. Um exemplo disso foi a conversa entre Brené Brown e Esther Perel, cujo conteúdo gira em torno de temas intrinsecamente humanos, como vulnerabilidade e relacionamentos. E não foi apenas um dos mais disputados, mas uma das sessões mais citadas como “conteúdos imperdíveis do SXSW”.
Como eu disse em textos anteriores, volto do SXSW com a clareza de que os temas humanos importam mais do que nunca. Que, em tempos de inteligência artificial, as competências emocionais, sociais e comportamentais passam a ser essenciais. Que em tempos de realidade estendida, a presença e a “realidade vivida” são ainda mais importantes. Que estar em lugares com tanto compartilhamento de ideias e pensamentos é uma oportunidade de ouro, mesmo que você não saiba exatamente o que vai fazer com tudo isso no dia seguinte.
Portanto, respondendo ao início deste texto: não, eu não volto do SXSW com várias respostas, eu volto com várias perguntas. E isso é ótimo! Se fosse o contrário, eu ficaria preocupada com a qualidade das discussões ou com a profundidade das minhas conclusões e reflexões. Ansiosa para as próximas perguntas!
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