SXSW 2024 – Desbloqueando o potencial humano por meio da cultura
Reflexões de Carol Dweck e Mary Murphy sobre a mentalidade de crescimento
Não vou fingir costume: ver Carol Dweck e Mary Murphy juntas no palco, em uma conversa sobre a influência da cultura de um ambiente (seja ele uma escola, empresa ou seu próprio lar) sobre o indivíduo, foi simplesmente incrível.
Para quem não conhece, Carol Dweck é uma psicóloga americana, foi professora e pesquisadora em diversas universidades renomadas como Harvard, Columbia e Stanford, e ficou muito famosa por seu livro “Mindset”. No livro, ela defende que não são apenas nossas habilidades e talentos que nos trazem sucesso, mas principalmente o fato de termos o que ela chama de uma mentalidade de crescimento ao invés de uma mentalidade fixa. Não vou conseguir aprofundar sobre o livro neste artigo, mas deixo aqui uma definição simplificada: mentalidade de crescimento é a crença de que nossas habilidades e inteligência podem ser desenvolvidas ao longo do tempo por meio de esforço, persistência e aprendizado contínuo. Mary Murphy, também é psicóloga, professora e pesquisadora, com doutorado em Stanford, e foi mentorada por Carol Dweck. No dia da palestra, Mary estava lançando seu livro “Cultures of Growth” (“Culturas de Crescimento” em tradução livre, mas ainda sem tradução oficial para o português), que trata justamente do tema do painel que elas conduziram.
Mary fez sua introdução contando a história que foi gatilho para seu desejo de pesquisar sobre como a mentalidade (“mindset”) de uma cultura pode impactar o indivíduo. Ela contou que, durante seu doutorado em Stanford, presenciou um colega defendendo sua pesquisa para docentes que, no meio da apresentação, entraram em uma disputa egóica de quem seria o mais inteligente e conseguiria derrubar as ideias do estudante mais rápido e com o comentário mais devastador. O resultado disto foi uma total perda de foco, seguido do abandono de seu trabalho.
Foi a partir dessa história que Mary chamou Carol Dweck ao palco para discutirem sobre os estudos que fizeram e que demonstraram que mesmo que um indivíduo tenha sua mentalidade de crescimento muito bem desenvolvida, o ambiente onde ele está inserido pode bloquear completamente esse mindset. Dweck mergulhou nas nuances delas, destacando a distinção crucial entre uma mentalidade de crescimento e uma mentalidade fixa. Enquanto a de crescimento vê desafios como oportunidades de crescer, a fixa os percebe como ameaças às habilidades pessoais.
Indo para alguns estudos de caso, elas observaram como a cultura da sala de aula pode criar crenças em habilidades fixas, prejudicando o potencial de crescimento dos alunos. Mary, em sua pesquisa, descobriu que programas de mentalidade de crescimento aumentaram as notas e a disposição dos alunos para enfrentar cursos difíceis no ensino médio, mas apenas quando os professores também possuíam esse mindset de crescimento. Isso ressalta a importância de direcionar intervenções não apenas aos alunos, mas também aos professores, para criar culturas de crescimento que permitam que as mentalidades de crescimento dos alunos se enraízem e sejam colocadas em prática.
Estudos sobre empreendedores revelaram uma clara distinção entre mentalidades de crescimento e fixas, com os primeiros buscando membros mais inteligentes para suas equipes, enquanto o segundo grupo admitiu que, apesar de quererem inovação e criatividade, não gostariam de contratar pessoas que consideravam mais inteligentes que eles próprios, com receio de não serem mais os melhores de sua startup. No ambiente de trabalho também é muito comum observar uma cultura de mentalidade fixa se sobrepondo e gerando comportamentos de medo de arriscar, errar e perder seu lugar, até em pessoas que individualmente têm uma mentalidade de crescimento bem desenvolvida.
Por fim, elas fizeram um esclarecimento importante: muitas pessoas acham que uma cultura com mentalidade de crescimento é menos rigorosa e vive a base de elogios, arco-íris e unicórnios, quando na verdade é tão ou mais rigorosa, no sentido de ser uma cultura que puxa e desafia as pessoas a buscarem suas melhores versões (o que é bem diferente de uma cultura punitiva e de humilhação). As pessoas nesses ambientes são mais propensas a responderem afirmativamente às diversas situações, indicando um ambiente favorável ao desenvolvimento e, consequentemente, levando a resultados individuais e coletivos muito superiores aos observados em ambientes de cultura de mentalidade fixa.
E, obviamente, não saíram do palco antes de nos deixarem com essa frase simples, porém impactante: “Mentalidade de crescimento é uma daquelas coisas que precisamos fazer JUNTOS”
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