SXSW 2024 – Eu sangro. Tu sangras. Eles sangram
Em meio a maior transformação tecnológica da humanidade, não podemos esquecer da mais importante de todas as tecnologias: a relação humana
O mundo está passando por mais uma revolução tecnológica. A Inteligência Artificial veio para mudar tudo e só se fala disso aqui no SXSW, claro. Seja com o Vision Pro, Ai Pin ou Rabbit R1 uma coisa é certa: o mundo nunca mais será o mesmo e as novas gerações já nasceram com toda essa tecnologia normalizada no dia a dia.
Amy Webb, futurista, autora, fundadora e CEO do Future Today Institute (e figurinha carimbada no SXSW), falou entre outras coisas sobre a Gen T, que significa “Geração de Tecnologia” e refere-se à ideia de que todas as pessoas, independentemente da idade, devem ser fluentes em tecnologia e ter habilidades digitais para navegar no mundo atual e no futuro. Webb também falou que a Gen T pode ser chamada de “Geração de Transição” que é o momento em que estamos vivendo. Ou seja, estamos passando por um período de transição em relação à tecnologia e que é importante que todos se adaptem a essa mudança.
Mas em meio a robôs, carros autônomos, chips implantados no cérebro, biotecnologia e toda inteligência artificial que a Amy Webb e tantos outros mostraram, resolvi trazer um contraponto de um dos papos mais interessantes que vi até agora aqui em Austin, a gravação do podcast “Unlocking Us” apresentado pela pesquisadora Brené Brown. Um podcast que fala sobre a vulnerabilidade humana. O papo foi com Esther Perel, psicoterapeuta, escritora e que tem um TED com milhares de visualizações, elas discutiram tópicos como vulnerabilidade, intimidade, comunicação e crescimento emocional.
O que isso tem a ver com o SXSW? Para mim, tudo. Na verdade, acredito que essa relação humana seja uma das principais coisas às quais devemos nos atentar em meio a tanta transição tecnológica e geracional. Afinal, por mais que o mundo esteja vivendo a era da inteligência artificial, são justamente as relações reais que fazem a diferença em um relacionamento, no trabalho ou em qualquer outra esfera que envolve um ser humano. Se pensarmos nas marcas e campanhas, as pessoas irão se identificar mais com as histórias e conversas que gerem alguma conexão real com elas.
Perel falou que “a qualidade do seu relacionamento é a qualidade da sua vida real”, seja o relacionamento afetivo ou até no trabalho. Claro que o uso das novas tecnologias irão facilitar muito a vida, e quem não se adaptar, está fadado a ser ultrapassado pelas pessoas que já entenderam esse movimento. Mas o que realmente vai fazer com que sua vida seja melhor e mais feliz é também fruto da qualidade dos relacionamentos de verdade, com todas as vulnerabilidades, defeitos e incertezas.
Essa relação entre as pessoas é tão importante que Esther Perel também trouxe um conceito muito poderoso de que “listeners create the speakers”, ou seja, a qualidade e profundidade dos assuntos, das relações e do trabalho vem com a troca e capacidade de quem está passando uma mensagem conseguir se conectar de fato com quem está ouvindo. Quando ouvimos alguém falar, interpretamos suas palavras com base em nossa própria experiência, conhecimento e perspectiva. Isso quer dizer que o significado de uma informação não é apenas determinado pelo falante, mas também pelo ouvinte. Nunca podemos esquecer isso ao criarmos uma ideia, na verdade, essa pode ser justamente a diferença entre uma ideia poderosa que tem relevância cultural e vira conversa entre as pessoas ou uma ideia que simplesmente passa batido pelo feed ou pela vida.
Essa reflexão é muito relevante nos dias atuais, pois com tanta tecnologia pronta para resolver qualquer problema, não podemos nunca esquecer das relações humanas e entender a importância dos ouvintes, ou no caso das marcas, a importância dos consumidores, na co-criação do significado da mensagem. Dependendo do contexto cultural e repertório de cada um, o conteúdo pode ser interpretado de um jeito ou de outro. Ou seja, quem recebe a informação também tem um papel ativo na ideia. E no fim do dia as mensagens e conceitos que criamos serão comunicados para as pessoas. Podemos, e devemos, ter a ajuda de novas tecnologias no processo de estratégia, criação e produção, mas jamais podemos esquecer que quem será impactado são as pessoas de verdade. Aquelas que sangram.
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