SXSW 2024 – A qualidade de como escutamos tem o poder de moldar o orador
Pensamentos para ficar e refletir por um bom tempo
Levei alguns dias para escrever sobre o que ouvi (e vi) da conversa entre Esther Perel e Trevor Noah. A conversa fará parte de seu Podcast “Where Should We Begin?“.
Compreendi que a demora em escrever sobre essa experiência fez todo o sentido! Esther é o tipo de oradora/apresentadora/terapeuta (entre outras multifacetas) que tem o poder de nos fazer refletir sobre o que fala, pois cada frase é tão profunda que ela mesma já tem seu próprio jargão (que usa em seu consultório), mas se aplica bem aqui quando coloca uma ideia ou um pensamento em pauta. Em tradução livre seria algo como “fique com esse pensamento e reflita por um tempo…“
Ao longo de uma hora foram diversos temas em que Esther, com sua sagacidade e capacidade de trazer o não óbvio à tona, foi acompanhada por um comediante sagaz, e a combinação foi perfeita em torno de diversos temas que destacarei aqui. E, em poucos minutos, Esther soltou sua primeira frase de impacto quando discutia com Trevor sobre semelhanças e diferenças entre terapia e comédia:
“Fazer o outro rir é o mais próximo de se conectar com outra pessoa sem tocá-la.”
Trevor, por sua vez, traçou um paralelo sobre como acredita que comédia se assemelha a um ato de intimidade, pois está sempre preocupado em satisfazer o outro e pensa sempre em comédia como um relacionamento em que precisa estar atento, ser flexível para se adaptar à reação do outro e entender o contexto para performar melhor. Obviamente que, ao dizer isso, se aproveitou do contexto para fazer diversas piadas de duplo sentido.
Ainda sobre relacionamento, Esther traçou um paralelo entre Comédia e Terapia e afirmou que um terapeuta fecha a porta para fazer a pessoa chorar e um comediante abre as portas para fazer as pessoas rirem. A diferença é que ela, como terapeuta, não tem controle sobre o que as pessoas irão chorar, e o comediante teria controle sobre o que rirão. Ainda sim, Trevor afirmou que nem sempre sabe o que fará as pessoas se apaixonarem. E ambos concordaram que a comédia é um exercício de sedução.
“A qualidade de como escutamos tem o poder de moldar o orador”
Questionada sobre como ser um melhor ouvinte, Esther disse que você deve ouvir sem expectativas, sem querer responder, sem querer concordar, sem julgamentos e sem vieses. Ela não escuta somente com o ouvido e sim com todo o corpo e todos os sentidos e se preocupa com a qualidade do processo.
Devemos ouvir com curiosidade genuína
Destacou que ouvir não é um processo passivo e devemos ouvir sem esperar para responder ou concordar e, claro, estar completamente disponíveis para o outro neste momento. O ato de escutar deve ser considerado uma dádiva e não uma concessão, e com isso encaramos como um privilégio.
Em seguida, Trevor compartilhou o que acredita que pode ensinar para Esther que pratica em sua profissão. Ele disse que é importante se recuperar rapidamente da reação de uma plateia difícil e sempre ir para um evento ciente do que pretende “dar” e “o que irá receber”.
“É tudo sobre expectativa – se sentir melhor ou pior depende de expectativa. Devemos ser curiosos ao invés de esperar uma reação.”
No final a conversa foi em torno de Intimidade e Ofensa pois a plateia questionou como Trevor consegue criar algo sem ofender a platéia. Trevor afirma ser um risco, mas que ser ofendido é algo que faz parte da vida e que, para nossa saúde mental, devemos entender isso e precisamos entender que nem sempre é sobre nós. Esther diz que as pessoas ofendem para ter uma reação e que não deveria ser sobre o que se luta e sim sobre o que você quer alcançar. Que muitas vezes não tem relação com o parceiro atual mas acaba sendo um tema. Que devemos lembrar que não é porque nos ofendemos que é algo ofensivo.
“Confiar é um compromisso sem uma certeza de futuro.”
Esther terminou deixando um pensamento sobre confiança, afinal, na prática, não sabemos no que iremos confiar então é um sentimento de adiantamento de algo. Confiar é arriscar e é um ato de assumir riscos e criar confiança. E, para finalizar essa conversa e nos deixar com muito a refletir ou, como ela mesma diz: – Fique com esse pensamento e reflita…, Esther e Trevor concordaram que …
“Devemos buscar beleza no desconforto. Podemos não controlar muita coisa, mas controlamos nossa reação”.
Comentários
Sua voz importa aqui no B9! Convidamos você a compartilhar suas opiniões e experiências na seção de comentários abaixo. Antes de mergulhar na conversa, por favor, dê uma olhada nas nossas Regras de Conduta para garantir que nosso espaço continue sendo acolhedor e respeitoso para todos.