Terceiro dia de SXSW e o cansaço começa a bater.
A sensação é de em parte voltar pra escola — a gente acorda cedo, revisa a lista de palestras do dia seguinte, fica com os olhos e os dedos a postos pra apertar o botão que garante a entrada na palestra.
Mas a outra parte, quando o ingresso garantido não rola, é o próprio perrengue chic: andar com o passo apertado entre salas e prédios, pegar fila, sentar no chão, levantar, entrar na palestra, sentar de novo, abrir o caderno / tablet pra anotar.
Um evento deste tamanho, com tanta gente, tanto palestrante, tanta ativação de marca, também tem muito… barulho. Isso mesmo, barulho. Andar pelo ACC é ouvir um perpétuo “ruído de fundo”.
E se você sair do centro de convenções e for pra rua, mais barulho. As ativações tocam música a plenos pulmões. Os bici-taxis quase todos têm caixas de som em alto volume que usam pra chamar a atenção dos potenciais passageiros. Os carros dos locais, quando não estão buzinando pros invasores que tomam a cidade deles por dez dias, também estão embalados por música pra entrar na vibe do evento.
E eu confesso que até esse ano isso não me incomodava. Acho que eu nem percebia quanto ruído sonoro eu escutava aqui. Até a primeira palestra deste ano, a da Ada Limón.
No momento em que ela começou a falar, com aquela voz linda que ela tem, o Ballroom D (a maior sala do festival, que acomoda cerca de três mil pessoas) silenciou. Por completo. E assim permaneceu por um bocado de tempo – e que delícia foi não ouvir nada além de Ada.
Deste momento em diante, percebi que em todas as palestras o fenômeno se repetiu: cada vez que o palestrante pegou o microfone, a audiência silenciou. Daria pra ouvir um prego cair no chão se ele não fosse de carpete. E em todas as vezes, ouvir o silêncio foi igualmente prazeroso.
Qual não foi minha surpresa ao ouvir Rohit Barghava, palestrante energético e superpopular por aqui, levantar esse tema. Falar sobre a necessidade de a gente conseguir se concentrar, respirar e se desvencilhar do ruído pra poder “zerar nosso HD”, abrir espaço pra coisas novas.
Tudo fez ainda mais sentido quando ouvi Esther Perel dizendo pra Brené Brown que quando ela sente medo, ela cantarola pra si mesma (o termo é “hum”, em inglês). Ela disse que ouvir a voz interna dela é a maneira mais poderosa de ela se regular. Focar na própria voz silencia o resto.
Em tempos de tanta discussão, argumentação, polarização, que a gente consiga mais espaços pra ouvir a nós mesmos. Ou para ouvir o silêncio – ele fala mais do que muitas vozes, sempre.
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