SXSW 2024: Nós (também) somos feitos de água
Precisamos agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo e precisamos agir assim o tempo todo
Que delícia começar meu dia aqui no SXSW ouvindo Ada Limón, Poeta Laureada dos Estados Unidos, falar sobre a fusão da arte com a ciência.
Ada foi contratada pela NASA para escrever um poema para ser eternizado em uma placa na Europa Clipper, a sonda espacial que vai até a segunda lua de Júpiter estudar o meio ambiente de lá. Eu não sabia e talvez você que lê esta matéria também não saiba, mas a NASA já tem uma tradição longeva de enviar arte pro espaço junto com cada expedição, sonda, que faz.
Segundo Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciências Planetárias da NASA, a lua Europa é um dos ambientes mais parecidos com a Terra já encontrados por uma semelhança fundamental: ela é em grande parte feita de água, sendo um potencial habitat favorável a muitas formas de vida. E como já ouvi falar aqui, há um par de anos numa palestra sobre reprodução no espaço, é imperativo que a humanidade possa encontrar lugares além do nosso planetinha pra viver. Talvez Europa seja a porta para o futuro da nossa espécie, portanto.
Pois bem: estas duas mulheres incríveis conversaram com a plateia e entre si, se emocionando e nos emocionando ao contar pontos de vista absolutamente convergentes apesar dos seus backgrounds tão diferentes.
Lori falou sobre a importância da tentativa e erro nos processos de construir expedições e naves espaciais (e, mais importante, de não ceder ao pessimismo quando dá ruim). Ada comentou: “Entregar-se ao desespero é uma escolha fácil. É mais difícil manter a esperança, a curiosidade, o fascínio (wonder). Mas nossa única escolha possível é a esperança.”
Ada também é uma defensora das pausas. Do silêncio como um espaço de receber e abraçar o universo, a energia da terra e de todos os seres que nos circundam, em todos os seus planos (momento Jovem Mística, eu sei – mas concordo demais com ela).
Ambas falaram como a importância de manter-se abertas ao novo, a enxergar várias facetas de si mesmas e estimular estas “várias pessoas” fazem diferença na sua vida e no seu trabalho. E que apesar de terem escolhido suas profissões ao longo da vida, elas nunca se fecharam para outras aptidões e interesses. Lori deu alguns exemplos de situações-problema que foram resolvidas por cientistas usando seu lado “não científico”, inclusive, e contou sobre como as equipes na NASA usam o poder do coletivo e da colaboração para atingir seus objetivos.
Curiosamente, mas certamente não por acaso, o cerne da abertura do evento feita minutos antes por Hugh Forrest, CEO do SXSW, foi justamente a noção de “criatividade massiva”. Do poder do coletivo. De como mesmo em tempos de AI pra todo lado, as conexões pessoais, olho no olho, entre os seres humanos ainda são a tecnologia mais poderosa do mundo.
Ada encaminhou a conversa para o final lendo seu poema “Nós, também, somos feitos de água”.
Os olhos marejados da plateia e de Lori mostraram: somos mesmo.
Elas deixaram o palco e a platéia com uma frase da Angela Davis: “Precisamos agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo e precisamos agir assim o tempo todo”.
Não poderíamos ter começado o dia melhor.
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