SXSW 2024: Menos FOMO, mais conexões profundas
Privilegiar a qualidade no lugar da quantidade é um desafio que vale a pena em Austin
Sendo marinheira de segunda viagem, a vinda parece bem menos caótica e o sentimento de FOMO (Fear of Missing Out) vai sendo substituído por um sentimento diferente. Não sei se existe uma sigla para ele, mas é algo mais familiar, ainda assim empolgante e intrigante. Sai o desespero de não saber minúcias sobre detalhes técnicos e administrativos (Onde pego minha credencial? Como funciona para chegar/sair?) e entra (E agora? Vou nas palestras que estão comentando ou mudo minha agenda para algo menos óbvio? Tento novos temas? Novos oradores? Que tal um workshop?). Não me considero uma veterana no evento (longe disso), mas vejo que alguns sentimentos de iniciantes se mantêm enquanto outros abrem espaço para uma maturidade maior, o que reduz a ansiedade com temas menos relevantes mas transfere para algo mais interessante.
Gosto de vir e participar do Festival. Me traz o mesmo sentimento que tinha quando, ao longo de uma adolescência e início da juventude, havia uma sede em absorver todo conhecimento do mundo, a crença de que o futuro reserva inúmeras possibilidades e que teríamos a chance de ser protagonistas em uma história maior que a nossa própria. A maturidade nos mostra algumas barreiras e a necessidade de escolhas que nos colocam em conflito com esse sentimento, mas trazem outros também. A calma para entender e ponderar as consequências das nossas escolhas, a possibilidade de criar conexões fortes em profundidade e qualidade (ao invés de quantidade) e a crença que a intensidade do impacto que temos, ainda que para um grupo limitado, é imensa.
Gosto de andar pela cidade e ver executivos C-level andando de patinete e conversando sobre trivialidades e gosto de conversar sobre inovação e entender o motivo que faz as pessoas virem até Austin. Aliás, é assim que começam as conversas ao invés do tradicional (e tão paulista): O que você faz? (e que, em geral, vem acompanhado de um cargo + uma empresa + algum comentário dependendo do tamanho do ego da pessoa).
Aqui somos todos estudantes e somos todos cientes da nossa imaturidade intelectual diante da vastidão do conhecimento contido em um espaço curto físico e de tempo. E, ao contrário de parecer crítico ou preocupante, é intrigante, extasiante e empolgante. Em neurociência, existe o conceito de neuroplasticidade que, simplificando, afirma que o ambiente tem o poder de mudar nossa forma de pensar e nossa cognição. Eu acredito nessa tese e afirmo que o pouco tempo em Austin tem um poder transformador em nós.
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