O amor como ele é
“Closer – Perto Demais” é definitivamente um filme de gente grande. Depois de um zilhão de animações, super-produções com efeitos especiais e uma tonelada de personagens de quadrinhos, já estava fazendo falta uma história simples, sincera e bem contada.
Não que eu não goste das psicodelias visuais de Hollywood de vez em quando, mas desde “Peixe Grande” e “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” que eu não via um texto tão bom. Aliás, a origem teatral de Closer é o que dá ao filme essa qualidade.
Os diálogos são cruéis, verdadeiros, um tapa na cara atrás do outro. Pois ao contrário da fantasia adolescente que nos é vendida no cinema e na televisão, Closer trata os relacionamentos humanos com um sinceridade incrível, sem floreios nem hipocrisia.
Os quatro personagens do filme parecem verdadeiros mestres na arte de usar as palavras, e eles se valem “apenas” delas para atingir suas próprias satisfações pessoais ou passar como um trator por cima de outra pessoa. São diálogos tão envolventes, que é impossível não querer que os personagens continuem discutindo após o término de cada cena.
Claro que nada disso seria possível sem um elenco que soubesse o que fazer com um roteiro desses na mão. Mas o casting do filme parece ter sido perfeitamente escollhido. Uns melhores que os outros, é verdade.
Apesar de Jude Law e Julia Roberts segurarem bem a bola, Clive Owen e Natalie Portman são as duas surpresas aqui. Principalmente Owen, no papel do médico que de início se mostra pervertido, se auto-intitula um troglodita mas consegue manipular quem quer quando se dá conta do espírito da coisa. A cena dele e de Jude Law no consultório é longamente divertida, assim como a conversa dos dois através de um chat.
E como era de se esperar, tanto Clive Owen como Natalie Portman acabaram de ser indicados ao Oscar respectivamente para ator coadjuvante e atriz coadjuvante.
O diretor alemão Mike Nichols é daqueles que só abre a boca quando tem algo importante pra falar. Sua carreira não é feita de um filme atrás do outro como um turbilhão, e sim de poucas mas excepecionais produções. E assim ele fez mais uma vez com “Closer”.
Nichols não se deixa levar por egos, controla o de seus atores muito bem e só entra em cena quando necessário. Seu foco no rosto e nas expressões dos personagens dá ainda mais valor ao texto do filme.
Os pulos na narrativa também são essenciais para segurar o espectador. Ao invés de perder tempo com melodramas e mostrando cenas de casamento, sexo e etc, Nichols dá um salto de meses na história para chegar ao ponto que realmente interessa. Só acho que ele não precisava ter cortado as cenas de nudez da Natalie Portman, mas tudo bem, isso é outra discussão…
O começo de um romance, a conviviência, o deixar de amar, o se apaixonar por outra, a traição e a confusão no meio disso tudo é retratada em cada momento do filme. Até perguntas fatídicas e com respostas arrasadoras como “ele transa melhor do que eu?” estão lá.
“Closer” é um retrato sincero do amor. Em nenhum momento afirma que ele não existe, mas nos mostra como seriam os relacionamentos se todos resolvessem dizer a verdade, mesmo que isso provoque fúria e dor do outro lado. E fugir do “você merece uma pessoa melhor do que eu…” é um dos grandes méritos do filme, que com certeza já está entre os melhores do ano.
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