Cannes Lions 2023: Midiatra. Você já tem um?
Muita gente já precisa e tantas outras vão precisar até que marcas e plataformas passem a criar uma internet mais positiva
midiatra
(mi.di.a.tra)
substantivo de dois gêneros
[Medicina]
Especialista que diagnostica e mitiga os efeitos colaterais psiquiátricos causados pelas mídias sociais
Você não está errado. Essa profissão ainda não existe no dicionário (ao menos por enquanto). Mas ontem ouvi o Dr. Michael Rich, líder do Boston Children’s Hospital, definir sua profissão assim. À frente de um laboratório que estuda os efeitos das mídias sociais na psique infantil e adolescente, ele subiu ao palco do Palais junto com o Pinterest para trazer estatísticas que partiram meu coração.
Ele e Andrea Mallard, CMO da plataforma, mostraram num gráfico simples como os smartphones acabaram com a vida social dos jovens – e como com a intensificação do seu uso, doenças como dismorfia, ansiedade, insônia cresceram para patamares nunca vistos.
Duas frases ditas por eles me fizeram imediatamente solidária aos tweens e teens de hoje:
• Na adolescência dos Gen X, nós éramos julgados apenas pelas pessoas que a gente conhecia (ou com quem convivia). As mídias sociais fazem com que um adolescente possa ser envergonhado por alguém que ele nunca viu nem conheceu. Imaginem a dor.
• No passado, quando você perdia um namorad_, bastava sair um pouco de perto dele e dos amigos pra amenizar a dor da perda. Hoje, com as redes, você pode precisar vê-l_ em todo lugar com seu novo amor.
Não é à toa, portanto, que as estatísticas de suicidio infantil (sim, eu disse infantil) estejam crescendo assustadoramente no Japão. A Dentsu, em mais uma de suas palestras-performance, me emocionou mostrando o trabalho de Makoto Nagahisa, um diretor de filmes cuja paixão é fazer filmes que ajudam a curar as pessoas.
Ele usa a sua sensibilidade e a sua voz para criar conteúdos para marcas como “Kaguya by Gucci” – um filme que reconta um conto de fadas tradicional japonês atualizado com conceitos como sororidade e diversidade de gênero no centro.
Nesta mesma toada, Dove tem mais uma vez amealhado felinos com o filme “Cost of Beauty”, uma história que faz qualquer um marejar os olhos (especialmente pais de crianças).
O que Dove e Pinterest têm em comum: ambos estão lançando iniciativas que almejam fazer com que as crianças parem de “scrollar” o equivalente a uma milha por dia. Pra mim, chamou a atenção o Pinterest estar falando abertamente sobre como as plataformas otimizam seus algoritmos para polarizar e hipnotizar.
A saída proposta por eles é o inspiredinternet.org – um movimento que chama as plataformas a criar uma internet mais positiva e com visão compartilhada pros perrengues e soluções pra eles.
Será que vai pegar? Tô na torcida.
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