Cannes Lions 2023: Gatos têm 7 vidas. E a indústria criativa?
Para muito além do que já foi, nosso mercado hoje em dia transcende comunicação para desenvolver soluções criativas em múltiplas áreas
Cada vez que eu vou a um evento pra me inspirar e aprender eu escuto pelo menos umas três vezes que a indústria da propaganda morreu ou está morrendo. E isso tem aí mais de dez anos, gente.
Hoje ouvi o Scott Galloway ser ainda mais contundente ao falar dela: “se uma pessoa está vendo publicidade (advertising), é porque a vida dela não foi tão-bem sucedida quanto ela gostaria. Ela é um imposto que os pobres e os pouco letrados tecnologicamente tem que pagar“.
Se Roy Kent existisse de verdade ele responderia com um sonoro: OI? Tá certo, eu sou parcial no assunto. Mas me pareceu uma visão bem reducionista do que é publicidade, comunicação, trabalho de marqueteiros.
Verdade seja dita: a indústria criativa em que eu trabalho hoje é bem diferente de 15 anos atrás. Ela foi, é e seguirá sendo transformada e redesenhada pela força do constante estado de mudança (tecnológica, cultural e humana) que a gente vive no mundo. Falei disso há alguns anos quando Cannes me fez pensar que nossa indústria era uma fênix. E vocês querem saber? É justamente esse lugar “non-stop” que pra mim ainda faz a indústria criativa um dos mais fascinantes pra se trabalhar.
Notaram que eu comecei a falar em indústria criativa? Pois é: na minha modesta visão, hoje o nosso trabalho transcende comunicação. O que fazemos atualmente é desenvolver soluções criativas para problemas: do consumidor, de negócio, de uma sociedade, do mundo.
E aí tanto a palestra da General Mills (da qual participou Mr. Galloway) quanto outras que vi hoje trouxeram bons exemplos do quanto o nosso campo de trabalho “se esticou” hoje em dia. Afinal, para além do discurso, hoje há um campo enorme de trabalho pra bons cérebros num espaço que há coisa de 15 anos atrás não existia em escala: o comportamento de marca. Falemos de alguns, portanto:
– Tim Mapes, da Delta, comentou que ainda não existe solução em escala (tipo eletrificar turbina de avião) para diminuir a emissão de carbono pra indústria da aviação. E que por isso, ele precisa de parceiros e boas idéias para poder ser sustentável. Um exemplo? A AMEX está fazendo cartões com metal de aviões desativados para o Skymiles.
– Marc Pritchard, da P&G, mostrou um produto da linha Head and Shoulders, chamado “Bare“, que tem 45% menos plástico na sua composição e possibilita o maior aproveitamento possível do xampu porque a garrafa é enrolável! Acabou o drama de deixar o xampu de cabeça pra baixo 😉
– O mesmo Tim falou sobre um assunto que domina minha vida profissional agora: a lealdade. E apesar de ele estar no comando de um dos maiores programas de milhagem americanos, a perspectiva que ele colocou na mesa não foi a de “conquistar lealdade dos consumidores”. Foi a de fazer a SkyMiles demonstrar lealdade aos seus clientes. Especialmente quando algo dá errado. E isso passa tanto por iniciativas táticas – como usar os lounges Amex nos aeroportos pra evitar um nível de ocupação que prejudique a experiência dos clientes – quanto por comportamentos que demonstrem os valores da marca, como deixar o assento do meio sempre desocupado quando os aviões voltaram a voar ainda na pandemia.
Vamos combinar que tem espaço pra mais umas trezentas vidas pra nossa indústria por aí, e que podemos usá-las pra fazer o bem, além do dindin?
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