Levei minha criança pra passear em Cannes

Tá, tá, tá.
Eu sei que a brincadeira aqui é de adulto.
Ainda mais pra mim, que vim pra Cannes pela primeira vez, como jurada em Direct.
Mas nem só de pressão, responsabilidade e critério se vive por aqui.
Ok, pode parecer meio cafona mas, pra mim, estar aqui tem sido muito inspirador e mágico (em tempo, ser emocionada tem lá sua cafonice).
Olho pra tudo como se não pudesse nem piscar pra não perder nada.
Vou de um lugar pro outro pra poder aproveitar tudo que o festival tem pra oferecer.
Abro bem os ouvidos não só pra entender tudo que falam, mas pra ouvir as entrelinhas.
Conheço novas pessoas, falo com quem nunca vi na vida.
Acordo mais cedo pra aproveitar mais e vou dormir o mais tarde que consigo para esticar ainda mais as possibilidades.
Como quando a fome grita porque não quero parar.
Mas paro pra encontrar os amigos de longa data.
Converso com os novos amigos de juri, os companheiros de uma longa jornada de 10 horas diárias. Divido o que sinto.
Respiro fundo.
Sorrio pros meus pensamentos.
Viver tudo pela primeira vez tem uma intensidade (e traz uma curiosidade) absurda.
Dá pra entender porque os bebês e as crianças pequenas lutam contra o sono.
Eles não querem perder nada.
Assim como eles, tô assim em Cannes.
Como se tivesse acabado de acordar pra vida, com a sensação de ter que viver tudo em um único dia.
Tô vivendo uma semana por dia.
Pelas minhas contas, já tô aqui há mais de um mês.