SXSW 2023: Dos Mamutes à Era de Aquário
O puro suco do festival vai até onde você aceita ampliar suas perspectivas
“Só conseguiremos vencer se estivermos realmente juntos como humanidade”, disse uma amiga na mesa do Voodoo Doughnut, um lugar cor-de-rosa que vende donuts e toca metal bem alto na 6th Ave em Austin. Entre amigos de longa data, discutíamos nossas impressões sobre o SXSW e como esse ano ficou muito latente a necessidade de consciência a respeito de como nossas ações hoje determinarão o nosso futuro em muitas dimensões do que somos. O que mais me impressionou e estimulou a cabeça foi a correlação direta entre temas que, num primeiro momento, pertencem a trilhas distintas: ESG, Tech, Direito Público, Criatividade e Esoterismo. Nesse grande caldeirão que é o South By Southwest, fica na mão de cada um a escolha de quanto quer ampliar suas perspectivas lateralmente ou se aprofundar em uma vertical específica. Eu sou do primeiro grupo.
Aqui vão apenas alguns exemplos: Ryan Gellert, CEO da Patagonia, afirmou em conversa com Katie Couric sobre o Futuro dos Negócios que o planeta se tornou nosso único acionista. Terry Young, CEO da sparks&honey, conduziu um excelente painel sobre a Afirmação dos Direitos da População Trans nos Estados Unidos e foi habilidoso em conduzir um dos Q&As que mais pegaram fogo no festival desse ano. Kate Childs Graham e Jeff Shesol, dois ex speechwriters da Casa Branca, cooptaram a mim e meu colega Gus Borrmann com o título “O Que Dizer Quando O Mundo Está Acabando”, que se mostrou um esclarecedor painel sobre coragem e vulnerabilidade aplicadas à gestão de crise. Ben Lamm, da Colossal Biosciences, está liderando um projeto de pesquisa a-lá Jurassic Park que tem como objetivo trazer espécies extintas de volta à Terra, entre elas os mamutes, com o objetivo de regenerar ecossistemas fadados ao declínio. Todas essas foram conversas significativas sobre a sociedade, sobre responsabilidade e identidade, por onde permeia a constante construção da ética em um mundo de temáticas relativamente novas. Ao menos para essa humana que vos escreve.
Como se já não estivesse de bom tamanho, — no SXSW nunca está — nesta mesma tarde conheci em primeira mão durante o painel Sex in The Space o protótipo da Spaceborn, uma cápsula espacial que tem como objetivo trazer para a Terra embriões humanos gerados no espaço para que sejam gestados por aqui, uma vez que até o momento não se considera viável uma gestação bem-sucedida em uma estação espacial. Mas… espera. Por que mesmo alguém iria criar um embrião para ser enviado do espaço para a Terra e outro alguém iria investir dinheiro nesse projeto? Não sei responder a essa pergunta. Mas se pensarmos bem, muito do que vivemos no nosso dia a dia hoje também não faria o menor sentido décadas atrás.
Voltando à nossa mesa no Voodoo, discutimos sobre metafísica, a teoria da relatividade e as transformações trazidas pela Era de Aquário, que para os estudiosos dos astros serão profundas. Independentemente de nossas crenças pessoais, ou justamente a partir delas, me parece claro que estamos num momento de inflexão do desenvolvimento de tecnologias e da nossa coesão como indivíduos, encarando a demanda emergente de trabalharmos juntos para desenhar o que queremos como humanidade para nós mesmos – a começar por nos importamos com o legado que estamos construindo. Questão retórica? Nem tanto. A crítica é fundamental para que cada passo seja uma nova oportunidade que se abre na construção do futuro que queremos. No que depender de mim, escolho deixar os netos orgulhosos de minhas pegadas.
Pensar no fim pode ser estimulante para pensar em novos começos e em como temos imensas oportunidades à nossa disposição, se assim quisermos. Ao final de uma semana, esse é, para mim, o puro suco do SXSW: as conexões entre áreas aparentemente não correlatas geram colisões horizontais que surpreendem e dão origem a transformações e inovações. Assim como o Voodoo Doughnut: que é cor-de-rosa, toca metal, e vende donuts coloridinhos. Que consigamos, como humanidade, conectar os pontos e dar propósito a todas as transformações que estão virando a esquina.
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