SXSW: Austin muito além do tech
Sustentabilidade, impacto social e diversidade moldam trilhas e público do evento.
Estamos caminhando para os últimos dias do South by Southwest (SXSW) e escolher qual conteúdo consumir durante o festival é, por si só, uma tarefa muito difícil. Algo muito interessante que percebo ao longo de todos esses dias de imersão é que temas como sustentabilidade, impacto social, diversidade e inclusão moldam as pessoas, a cultura do evento e estão intrínsecas em todos os painéis e conversas que pude acompanhar até aqui.
Nos últimos dias, pude observar como o público ajusta seu vestuário com base em sua cultura e comportamento habitual. São culturas muito diferentes e ao mesmo tempo que conversam entre si. Nos primeiros dias do evento, quando as trilhas eram mais voltadas para tecnologia e inovação, percebíamos muita gente no estilo “Tech Bro”, com peças clássicas daqueles que trabalham na tecnologia: tênis, calça jeans, camiseta preta e uma mochila nas costas. Já na quinta-feira, um dia em que o festival estava mais voltado para música e a cultura, a diversidade e a moda se cruzaram e a cada passo era possível ver desfiles de peças bem inusitadas.
E, para mim, isso é o que faz o SXSW tão diferente: o nosso poder de escolha, de interação e conhecimento de outras culturas e o quanto isso nos faz diferentes de qualquer outra pessoa durante esses dias. Cada um de nós monta o seu próprio festival. A parte mais importante e que deu origem ao SXSW é a convergência entre tecnologia, cinema, música, games, ciência, educação e cultura. Pensando nisso, minha agenda não foi só marcada por temas high tech, também visitei vizinhas no universo fashion e me surpreendi com apresentações e temas de importância para a indústria.
Na palestra “Building a Business that Inspires”, a primeira modelo australiana da Victoria’s Secret, Miranda Kerr, contou sua história e abordou como construir marcas que inspiram. Mais conhecida por ser uma modelo internacional, Miranda apresentou a sua versão como empreendedora e filantropa. Pioneira do movimento mundial Clean Beauty – que defende o uso de cosméticos que não agridem o corpo, nem o mundo em que vivemos – ela lançou a KORA Organics em 2009 para ajudar outras pessoas a obterem resultados clínicos usando ingredientes orgânicos certificados que são vendidos em mais de 30 países atualmente. Inspiracional e interessante, Miranda abordou a importância da sustentabilidade, bem-estar, os desafios da indústria da beleza e como isso a inspirou na prática para a jornada de fundação de seu negócio, desde o diagnóstico de câncer de sua mãe, até o autofinanciamento e a construção de uma marca global.
E não só por isso é possível perceber que o tema sustentabilidade não é só algo relacionado ao impacto e justiça social, mas também abraça outros universos com bastante força. Na palestra “Earth is now our only shareholder“, sobre o futuro dos negócios, o CEO da Patagonia Works e Patagonia Inc., Ryan Gellert, representou muito bem este cenário. Antes de sua nomeação como CEO Global, Ryan passou seis anos como gerente geral da Patagonia na Europa, Oriente Médio e África, podendo vivenciar enormes desafios e, ao longo de sua apresentação, falou sobre os rumos da marca, os objetivos dele de não visar o lucro, mas sim, o sustentabilidade do nosso planeta. Foi uma palestra incrível.
E quando falamos de mudanças que queremos ver ou estamos vendo no mundo, já me vem à mente a palestra “From Fashion To Fork: The Future of Food 2028”, da Dra. Morgaine Gaye, especialista mundial em tendências alimentares. Na conversa, a Dra. Morgana falou um pouco sobre como 2020 mudou nosso cenário futuro, de como vivemos, e no que acreditamos, que por sua vez moldou nossas aspirações e desejos, inclusive relacionado à comida e como lidamos com ela. Com uma apresentação extremamente visual, ela trouxe paralelos entre comida, moda, design e cultura, explorando uma infinidade de tendências, sempre colocando a sustentabilidade em suas falas e como parte dos resultados altamente prováveis de como viveremos nossas vidas no futuro – desde ter uma vida mais saudável até questões sobre manter a cultura da culinária de trazer sempre novidades para o prato, de restaurantes continuarem brigando pela estética do prato, pelo melhor sabor, entre outras características.
Neste período que estou por aqui, completamente imersa em novidades e tendências, pude perceber como diferentes culturas se misturam, e que furar nossas bolhas é importante. Mais do que desfiles de moda, autoexpressão ou conversas sobre produtos orgânicos, culinária e novos hábitos, tiramos de tudo isso a preocupação com o equilíbrio entre as questões econômicas, sociais e ambientais e como isso está cada vez maior. Pensar no futuro é um exercício necessário e ele está acontecendo agora. Não podemos abraçar todas as tendências e teses, mas podemos explorar mais e melhor os propósitos e ambições que temos como indivíduos, empresas e enquanto sociedade.
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