SXSW 2023: Humanos: os novos assistentes dos robôs (e vice-versa)
Mercado de trabalho potencializado pela IA nos convida a repensar conceitos de produtividade, rotina de trabalho e dinâmicas de contratação.
“Ir rápido e quebrar coisas” sempre foi e continua sendo o modus operandi das empresas de tech. Agora, porém, o impacto será sobre o seu trabalho — seja para o mal ou para o bem.
A ideia da perda de trabalho para a IA já virou quase uma piada batida, mas o SXSW avaliou com mais profundidade as nuances deste debate. Estudos mostram que, historicamente, tecnologias criaram mais empregos do que tiraram, mas ainda não temos clareza se isto se repetirá na era da IA exponencial
“Tecnologia, no longo prazo, cria mais empregos”, opinou Chris Hyams, CEO da plataforma de RH Indeed, no painel The Future of Work is NOW: Disruption, Equity, and Jobs.
No entanto, não é possível ignorar os riscos. O CEO da Indeed comparou a criação de IAs auxiliares e generarivas à criação da bomba atômica.
“Eu acho que particularmente as empresas de software, pela velocidade de crescimento dessa indústria, não têm bases éticas e filosóficas. Muita gente está criando coisas tão poderosas quanto o que fez Oppenheimer, mas não têm noção do seu impacto”, opinou Hyams.
IA: colega de trabalho ou seu próximo supervisor
Já sabemos que parte dos trabalhos pode ser substituído pela IA, como motoristas e funções que trabalham com análises preditivas, como seguradores e até traders. Durante o SXSW, contudo, tem tido destaque a ideia de aprender a trabalhar em conjunto com a IA.
O CEO da Open AI, Greg Brockman, acredita que habilidades humanas serão amplificadas, já que não são só tarefas mecânicas que serão automatizadas. “Estamos vendo algo diferente na prática. Vemos muito mais avanço em IA para trabalho cognitivo”, disse, usando como exemplo o Chat-GPT.
Kevin Kelly, cofundador e ex-editor da Revista Wired, aposta que teremos “estagiários” inteligentes para executar tarefas.
Com o ChatGPT e suas iterações, será como se cada trabalhador contratasse seis assistentes. “Eles podem ser imperfeitos, mas estarão sempre lá para ajudá-lo a trabalhar, 24 horas por dia e 7 dias por semana”, explica Greg Brockman.
Privilégio tecnológico
Ao apresentar seu tradicional report de tendências, Amy Webb falou do pontencial abismo digital que veremos e seu impacto no mercado de trabalho.
Para ela, os melhores postos de trabalho futuros podem ser ocupados por pessoas que sabem escrever bens prompts para inteligências artificiais generalistas.
“Se você é uma pessoa que aprende a usar a inteligência artificial agora, é como ter uma vantagem imensa, basicamente como nascer rico e todo mundo vai ter que correr para te alcançar”, brincou.
Upskilling em massa
A atualização constante e o aprendizado ao longo da vida (lifelong learning) precisam ser uma realidade para todas as faixas etárias.
“Sempre pensamos em upskilling para pessoas mais velhas, mas também teremos que atualizar nossas crianças. Há bilhões de Gen Z’s e Gen Alpha’s que serão deixados de lado da era dos empregos auxiliares”, ponderou Amy.
A ex-CEO da IBM, Ginni Rometty, acredita que será a primeira vez na história que as pessoas terão que reciclar completamente suas habilidades. “Isso parece assustador para muita gente, mas vai ser comum você recomeçar a carreira várias vezes ao longo da vida”.
A era dos generalistas
Estamos fazendo pelo trabalho intelectual o que a revolução industrial fez pelo trabalho físico. “Quando digitalizamos habilidades, elas se tornam programáveis, combináveis e passíveis de upgrade”, disse Ian Beacraft, CEO da Signal And Cipher.
Para Beacraft, o futuro do trabalho e do conhecimento será dominado por pessoas com um conhecimento horizontal.
Diplomas e credenciais em cheque
Para evitar o desemprego em massa e driblar a escassez de mão de obra em algumas áreas, empresas terão que parar de contratar apenas com base em diplomas e experiência formal.
A IBM, por exemplo, criou um programa de aprendiz amplo para contratar e desenvolver pessoas sem diploma universitário e de minorias subrepresentadas em tech.
Para ela, empresas precisam construir talentos, e não apenas “comprá-los”. “Vimos que os aprendizes são mais produtivos e ficam mais tempo do que graduados, e hoje apenas 50% das vagas da IBM requerem diploma universitário para vagas de entrada”, pontuou.
Quiet quitting vs. Propósito no trabalho
Depois do quiet-quitting, da grande resignação e dos layoffs em tecnologia, pode ser que vejamos uma retomada na busca pelo trabalho com propósito, principalmente em empregos de tecnologia ligados à inovação social e ambiental.
“Já estamos vendo um fluxo massivo de talentos de tech que já ganharam muito dinheiro e não querem dedicar o resto da carreira a gerar mais cliques em anúncios, mas em aplicar seu conhecimento aos problemas atuais”, opinou Emily Kirsh, investidora da Powerhouse ventures, em um painel sobre Climate Techs.
Um novo conceito de produtividade
Amy Webb mostrou como a IA pode diminuir nosso tempo de trabalho em até 55%. Assim, a tendência é que revisemos nosso estilo de trabalho e conceito de produtividade.
“Produtividade é para robôs, não é uma boa métrica de produtividade para humanos”, argumentou Kevin Kelly, da revista Wired.
O SXSW também trouxe representantes do estudo do Reino Unido da semana de quatro dias, que defenderam como ele pode ser benéfico para empresas e colaboradores. Mas no presente, ficou claro que ainda não há consenso nem sobre o home office.
“Trabalho é um ambiente social, precisa ser divertido e as pessoas deveriam estar lá. Nós pedimos para as pessoas irem duas vezes por semana. Precisa haver um equilíbrio”, contra-argumentou Anne Wojcicki, CEO da 23andMe.
Qual será o melhor modelo de trabalho ou tecnologia assistente? Vamos ter que trabalhar para ver.
Curadoria e texto: Globo + OCLB
Texto originalmente publicado na Plataforma Gente, Hub da Globo de pesquisas e tendências com a cara do Brasil.
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