SXSW 2023: Procura-se um futuro pra sonhar

“Me parece que, para muitas empresas, greenwashing parece ser uma boa estratégia no momento.” Sim. O uso da causa do meio ambiente é uma estratégia de desinformação para muitas empresas, de acordo com Stanton Thomas, VP sênior de sustentabilidade da empresa de software o9. Enquanto der para ganhar dinheiro com o que polui, mentir vira uma boa saída para garantir bônus pro acionista. Ele participou de um painel mais técnico, chamado “The planet needs sustainable global supply chains”, que discutiu como escalar a redução de emissões através das cadeias produtivas globais.

Em meio a tantas discussões que tenho acompanhado nesses últimos dias sobre engajamento civil e soluções para a emergência climática, a constatação de Thomas me pegou. O SXSW 2023, segunda edição que acompanho presencialmente (a outra foi pré-pandemia, em 2018), vem me causando alguns desconfortos que não existiram da última vez que estive aqui.

O principal deles, que me acompanha desde o primeiro dia de festival, é a constatação de que estamos, coletivamente, falhando em elaborar soluções efetivas para solucionar os grandes problemas da nossa época, mesmo tendo abundância de dados e conhecimento diante de nós. Sabemos que a emergência climática caminha para um ponto de não retorno; que a tecnologia avança a uma velocidade que nossas instituições não dão conta de responder; que não dá mais para convivermos com o nível adoecedor de desigualdade realçada por esse capitalismo tardio e predatório dos nossos tempos. Me pergunto, sinceramente, se haverá tempo.

Enquanto dividia essa angústia com amigos que estão por aqui, ouvi duas respostas inspiradoras. A primeira foi o relato de uma fala de uma das líderes da banda curitibana Tuyo, que está em Austin para o SXSW. Numa de suas apresentações, ela teria dito que sonhar o futuro é a única alternativa possível e aceitável para quem, como ela, teve o direito de sonhar de seus ancestrais negros ceifado pela escravidão.

A outra inspiração, vinda de uma amiga, é um abraço: num contexto como este, em que não temos controle sobre as coisas e literalmente podemos enfrentar o fim do mundo (como o conhecemos), o que nos resta é cultivar nossas comunidades de afetos e cuidar de nós mesmos.

A essas duas visões, ao longo dos dias fui me apoiando em outros exemplos de ativismo importantes. Como a de jovens norte-americanas que, no painel “Democracy is worth the fight”, mostraram que usam a energia da Geração Z para arrebatar eleitores, criar resistência democrática nas três esferas de poder norte-americanas e também fortalecer jovens lideranças progressistas. Uma delas, Olivia Julianna, relatou que congressistas conservadores têm usado seu nome e suas arrecadações para causas de justiça social para conseguir doações ainda maiores entre conservadores para combater os avanços que Olivia tem ajudado a construir. Ela não se intimida. Muito pelo contrário: “Se eles já têm medo de mim enquanto estou na faculdade, imagina aos 25 quando já tiver idade para concorrer ao Congresso”.

E há, ainda, as raras exceções de empresas fazendo algo correto. Nesse sentido, o painel com Ryan Gellert, CEO da Patagonia, foi um alento num mar de más notícias e previsões assustadoras. Ele exortou que tenhamos muito cinismo com corporações. E sentenciou: “O nível de transparência das redes sociais nos coloca, enquanto negócio, numa posição em que é muito difícil se esconder. O espaço entre o que se diz para funcionários, consumidores e órgãos reguladores está se estreitando.”

A Patagonia vem fazendo sua parte tentando limpar a cadeia produtiva da moda, de forma colaborativa e aberta. Poucas outras empresas estão perto de fazer o básico. E eu saio daqui pensando muito se nós estamos realmente fazendo o que podemos, cada um nos diferentes papéis que ocupamos na sociedade, para acelerar um futuro que ainda ousamos sonhar.

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