SXSW 2023: “Web3 não passa de uma buzzword de marketing para justificar golpes, fracassos e fraudes”
Molly White, a engenheira de software que se tornou a voz da razão no mundo turbulento das criptomedas e blockchain
Molly White iniciou sua carreira como engenheira de software, mas sua experiência como editora voluntária e administradora da Wikipedia desde 2012 ajudou-a a desenvolver habilidades de escrita e pesquisa, além de um olhar crítico para identificar informações incorretas, imprecisas ou tendenciosas.
Foi com esse radar ligado que Molly ficou conhecida por seu site, Web3 Is Going Just Great, onde relata e critica de forma ácida o aclamado mercado das criptomoedas e da Web3. O olhar apurado se uniu à sua experiência em software, e Molly destaca que a complexidade e os jargões técnicos dos projetos da criptolândia dificultam a avaliação de seu verdadeiro valor, potencial e possíveis armadilhas.
Em entrevista ao jornalista Gerrit De Vynck no SXSW 2023, ela reconheça que algumas inovações tecnológicas da área possam ser benéficas, Molly ressalta enfaticamente que muitos projetos atuais consistem em promessas vazias e até perigosas, com oportunidades ilusórias de dinheiro rápido sujeitas à volatilidade de mercado, perdas financeiras e fraudes. Em seu site, Molly mantém um contador sempre ativo de quantos bilhões já foram perdidos nos desastres cripto. Nesse momento a marca é de quase 12 bilhões de dólares.
A análise crítica de Molly, que não se considera jornalista, mas admite estar cada vez mais nessa direção, pode ser resumida em três pontos:
1. Promessas vagas e irrealistas: projetos Web3 prometem soluções revolucionárias, mas não fornecem resultados concretos ou resolvem problemas reais. Ao usar o termo “Web3”, buscam vender uma imagem de inovação e progresso, mesmo sem substância por trás das promessas.
2. Supervalorização da tecnologia blockchain: muitos entusiastas da Web3 veem a blockchain como solução para tudo, criando soluções complexas para problemas inexistentes ou facilmente resolvidos de outras formas.
3. Interesses financeiros e especulação: muitos projetos Web3 são movidos por interesses financeiros e especulação, usando o termo “Web3” como ferramenta de marketing para atrair investidores e gerar interesse em tokens e criptomoedas, mesmo quando os projetos subjacentes não têm mérito real ou valor sustentável.
Molly cita a Wikipedia como um projeto utópico da web que oferece informações gratuitas e acessíveis a todos, contrastando isso com projetos Web3 que, segundo ela, levam a web na direção errada, financeirizando tudo e transformando atividades de lazer em empregos.
Ela critica a falta de transparência e a má governança em alguns projetos de criptomoedas, que resultaram em desastres financeiros e perdas significativas para os investidores, incluindo pessoas comuns enganadas por promessas falsas, como foi o caso do projeto Celsius. A carteira digital alegava ser uma alternativa mais segura e rentável aos bancos tradicionais. Muitas pessoas comuns investiram suas economias nesse projeto, acreditando que poderiam obter melhores retornos do que em suas contas bancárias regulares. Quando o projeto faliu, essas pessoas sofreram perdas significativas, e muitas delas escreveram cartas ao juiz de falências, pedindo o reembolso de seu dinheiro.
Molly White enfatiza a importância de analisar criticamente os projetos e suas reivindicações, em vez de aceitá-los cegamente como soluções revolucionárias e vê valor tanto no jornalismo cidadão quanto na imprensa mainstream nesse sentido. Ambas precisam se complementar, aliás, pois a cobertura da mídia tradicional sobre o caso FTX mostrou muitos jornalistas caindo na armadilha de focar na personalidade e na imagem pública do fundador Sam Bankman-Fried, em vez de investigar as práticas questionáveis da empresa.
Molly sugere que todos, incluindo ela mesma, deveriam aprender com essa experiência e não olhar para o espaço cripto com a mentalidade de “é apenas cripto”. Até porque as especulações sobre a “morte do cripto” tem sido exageradas. O histórico de preços das criptomoedas mostra ciclos de altas e baixas, com fraudes e golpes proliferando quando os preços estão em alta. A tendência deve continuar, pois ainda há muito dinheiro de capital de risco investido em cripto, políticos apoiando o setor e pessoas discutindo seu potencial como solução para vários problemas. Mas o prolongado inverno cripto – que evaporou trilhões de dólares e destruiu empresas da noite para o dia – continua.
Já tem gente puxando o plugue, como é o caso da Meta, que vai parar de oferecer suporte aos NFTs no Facebook e Instagram. Talvez seja apenas o início de muitos desembarques – outros de fininho e outros bem barulhentos – do trem do hype. Enquanto isso, o resto do mundo da tecnologia vai trocando sua obsessão por blockchain pela novidade da vez: inteligência artificial. Não, ela não acha que é a mesma coisa, mas fica a advertência.
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