SXSW 2023: Sua próxima assinatura não será de streaming
Spoiler: é algo que você provavelmente não poderá viver sem.
Nem de um serviço de música, podcast, conteúdo jornalístico, ou qualquer outro tipo de infoproduto em que você possa pensar. A sua próxima assinatura vai servir pra garantir que você tenha (alguma) privacidade e/ou segurança digital.
Sim, você não leu errado. Como falo há um bocado de tempo por aqui, sua privacidade já está em risco há algum tempo. E este foi o ano em que duas empresas diferentes apareceram aqui pra falar do tema em grande estilo.
A primeira, chamada Aura, tem no seu board e como investidor ninguém menos que Robert Downey Jr. Assim como eu, outros participantes lotaram a sala EF para vê-lo e dar aquela tietadinha básica ;-). Mas ele não veio sozinho — além do CEO da Aura, trouxe um ex-agente do FBI e uma psicóloga que se especializou no estudo de psicopatas e criminosos.
A conversa dos quatro trouxe estatísticas alarmantes: o crime digital já é um “mercado” de 10.3 bilhões de dólares nos EUA, cifra comparável ao PIB do Japão somado ao da Alemanha. E esse mercado tem se expandido graças a dois principais drivers: a preguiça das pessoas de manter sua vida digital segura e a média de 25 aparelhos conectados à internet em cada domicílio.
Eles contaram que as fraudes também seguem padrões. Antes a mais comum era a do romance falso (aquele namorado que de repente pede dinheiro e some depois). Em 2020, com a pandemia, a moda foi a do chefe falso, que te mandava um email pedindo pra fazer uma transferência de dinheiro em nome da empresa para alguém. Agora a fraude da vez é o “pig butchering” (abate do porco, em português). Funciona assim: alguém te conhece online, fica seu amigo. Te dá uma dica quente de investimento em crypto e sugere você colocar 100 reais pra ver no que dá. Os 100 viram 1000 (em um site que é obviamente falso) e você fica tentado a depositar mais dinheiro. Entendeu o jogo? Primeiro engorda-se o porco (o cofrinho falso de crypto) e depois, com o sumiço da sua grana, ele é abatido.
O negócio da Aura é justamente te proteger disso e de outros potenciais perrengues — roubo de identidade, cyberbullying, acesso ao seu histórico de crédito, vazamentos de dados. Um guarda-costas digital.
Quem também esteve em Austin pra promover outra startup no mesmo segmento foi Chelsea Manning, whistleblower que foi presa depois de entregar documentos ao Wikileaks. Ela se associou a Nym, que oferece um serviço antivigilância digital através de uma mixnet — ou uma rede que anonimiza e descentraliza o envio de pacotes de dados. Em resumo, você paga para que ninguém saiba quem você é ou o que você faz no meio digital (eles explicaram de um jeito bastante mais técnico ;-P).
Segundo Chelsea, todo mundo deveria pagar porque continuamos sendo observados o tempo todo — e, agora, as câmeras e microfones de alta definição dos nossos devices já são capazes de detectar muito rápido os diferentes microexpressões e tons de voz a cada vez que você faz um swipe pra direita ou pra esquerda. Estes, por sua vez, são decifrados e utilizados em algoritmos sofisticadíssimos. Vamos combinar que se já há algoritmo que converte a onda elétrica cerebral de uma pessoa em um comando que move um objeto, como falei no meu texto anterior, todo o resto parece fácil, não é mesmo?
Enquanto nenhum destes serviços chega ao Brasil, o time da Aura deixou 4 dicas rápidas e espertas pra gente tentar se proteger:
• Nunca reutilizar senhas nem anotar elas no bloco de notas do telefone. Arrumem um gerenciador de senhas confiável e tenha uma senha pra cada site.
• Use autenticação em duas etapas sempre que ela estiver disponível.
• Não fique contando coisas nas redes sociais que possam ser usadas contra você pra descobrir senhas. Frank Abagnale (do filme Prenda-me se for Capaz) já dizia que com seu nome completo, data de nascimento, cidade e estado de residência muito falsário já faz uma festa.
• Ensine as crianças sobre os perigos de falar com estranhos também neste meio e supervisione e apoie os idosos, que costumam ser alvo fácil, no uso de tecnologia.
Já diz o ditado popular: prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
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