SXSW 2023: Os cyborgs somos nozes
Pois é: na minha primeira vinda aqui, lá nos idos de 2011, eu ouvi uma frase do Ray Kurzweil (estudioso da singularidade) que me fez cair dura. Ele disse algo como: “os celulares e as redes sociais nos transformaram em cyborgs”.
Ali, ele queria dizer que estes devices nos aumentaram como seres humanos: agora conseguimos ver e saber sobre quem está longe, usar um cérebro fora do corpo pra nos ajudar a pensar, ter um guia de ruas, cidades, países ao alcance da mão, e por aí vai.
Mais de dez anos passaram e a tecnologia que nos aumenta só acelerou: agora temos wearables que conseguem nos observar (quanto andamos, como andamos, nosso ritmo cardíaco, nossa oxigenação, os decibéis à nossa volta e muito mais) e nos diagnosticar ou alertar. Um exemplo vivido por esta que vos fala: fui a um show com meu Apple Watch. Em um determinado momento, ele me fez o seguinte alerta: você está num lugar com som ambiente acima de 70 decibéis. Se continuar nele por mais de 20 minutos, pode experimentar surdez temporária.
Estes bichinhos estão mais inteligentes do que nunca – calculam sua capacidade cardiovascular, te avisam se você pisa torto…e a Apple está investindo bastante em saúde porque segundo a Drª Sumbul Desai, VP de Saúde da Apple, um dos maiores fatores de sucesso (ou insucesso) na solução de um problema de saúde é o tempo.
E foi o tempo de diagnóstico para uma doença rara um dos testes mais eficazes para o ChatGPT – contou Greg Brockman, CEO e co-fundador da Open AI. Ele contou que sua esposa teve uma dor forte do lado esquerdo do corpo que demorou muito tempo para ser diagnosticada (ela precisou passar por uns 3 ou 4 médicos até receber o diagnóstico correto). Quando ele entrou com os sintomas dela e perguntou para a máquina qual era o diagnóstico, recebeu a resposta correta de primeira, e ainda com uma recomendação de executar um exame que descartasse a possibilidade de apendicite “só pra ter certeza“.
Numa das palestras mais esperadas do evento, Greg gerou opiniões divididas sobre seu conteúdo. Alguns elogiaram o pensamento que ele usa para estruturar a governança da Open AI – em que mistura investidores e decisionmakers sem interesses lucrativos. Outros criticaram a falta de respostas dele para as importantíssimas questões de vieses, usos indevidos da tecnologia e falta de acuracidade em algumas respostas da ferramenta. Mas todo mundo concordou que a conversa foi um pouquinho maçante.
Greg falou uma coisa que foi reveladora pra mim, no entanto: que estamos saindo da era do código para a era da linguagem. “Todo tipo de negócio será baseado em linguagem“.
E a última fronteira da linguagem, que a ciência começa a desbravar de forma ainda incipiente mas já bastante assustadora, é a telepatia. Isso mesmo, você não leu errado – as interfaces de controle através do cérebro estão chegando.
Ou melhor: já chegaram. Anna Wexler, uma neuroeticista que tem um laboratório na Penn University com o seu nome, contou que o mercado de Neurotecnologia para consumo já existe há 10 anos. Implantes cocleares para ajudar surdos a ouvir, estimulação profunda do cérebro para atenuar o Parkinson são alguns exemplos.
As novas aplicações de que falou Jacob Robinson, da Motif Technologies, ainda não serão usadas pra mover objetos com o pensamento – mas sim para nos ajudar a viver melhor e a tratar doenças para as quais hoje ainda não há remédio. Ele comentou que está sendo desenvolvido um protótipo de “chip neural” para pacientes de ELA – que poderia retardar o avanço dos sintomas, entre outras coisas.
Um brasileiro encerrou a palestra deles, cujo tema era “Controle da Mente para o Bem“, com uma pergunta singela aos panelistas: vocês (ainda) acreditam que seres humanos tem alma?
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