SXSW 2022: o festival ensina. Sempre.
Palestras de Scott Galloway e da equipe da Variety Media apresentaram tendências da produção de conteúdo, mas chamaram a atenção por ensinamentos que proporcionaram aos próprios palestrantes
Um baita panorama sobre a indústria de produção de conteúdo. Foi isso que Gavin Bridge e Andrew Wallestein, da Variety Media, apresentaram no meu primeiro dia de SXSW 2022.
Numa sessão surpreendente, da qual quase desisti pensando que poderia ser muito carregada de auto-propaganda, a dupla mostrou com estatísticas sólidas o “Estado da União” da produção de conteúdo em escala global. Falando primeiro em projeções e tendências, eles trouxeram 4 grandes movimentos:
O “triopólio” Amazon-Apple-Google vai se transformar num novo “quadropólio“. Sai a Meta – Facebook e Instagram perderam tanto valor nos últimos meses que autores como Scott Galloway (que falou hoje mais cedo no evento também) já não os consideram mais Big Tech – e entra…o TikTok.
Em outra previsão coincidente com a palestra anterior do Scott, eles foram enfáticos sobre uma nova onda de consolidações e M&A entre as grandes redes e as Big Techs e o que ele chamou de “radicais livres”. São empresas menores, mas que tem fortalezas indiscutíveis como a Peloton e o Twitter.
Em tempos de escassez de assinantes para justificar valuations cada vez maiores, a dupla vê 3 caminhos para que os players de streaming possam se tornar cada vez maiores: entrar em novas regiões geográficas, entrar em novos mercados ou entrar no mundo do freemium – e expandir seus públicos para incluir não pagantes financiados por propaganda. Quem diria que os streamings iriam se render à receita de anúncios?
Por fim, falaram sobre a escalada íngreme do volume de produção original pelas companhias. Estimam que em 2022 mais de 2 mil shows novos sejam produzidos. Por que? Por que o conteúdo é um fosso, uma barreira de saída.
Depois das macrotendências, os palestrantes ainda passaram por cada frente de produção de conteúdo em detalhe. A apresentação completa está aqui.
Pra terminar, mais uma coincidência entre as palestras da Variety e de Scott Galloway, provavelmente um dos temas mais quentes do festival: o metaverso. Scott vaticinou que o vencedor desta corrida – na visão dele – é a Apple. Por que? Ela tem o hardware, a confiança, o capital, a capacidade de execução, e já é um meio de pagamento.
Além disso, ela tem… os Airpods. Scott falou que na opinião dele, o metaverso não será definido pelo aspecto visual, mas pelo áudio. Usando referências cinematográficas, será menos “Matrix” e mais “Ela”, com o áudio sendo um criador poderoso de intimidade.
E falando em intimidade, Scott ao final da apresentação se ofereceu para responder perguntas ao vivo da plateia. Um pai de pessoa trans pediu a palavra e lhe fez a pergunta: por que você se veste de mulher nos seus shows, sendo um homem hétero, branco e cis? Você já parou pra pensar que pode estar incomodando ou ofendendo mulheres?
Scott, num raro momento de humildade, engoliu em seco e respondeu: “Eu acredito que você está sendo sincero. Eu gosto de me vestir de mulher. Mas independente de como eu penso, entendi que como um homem cis e hetero posso ter ignorado o impacto que você acabou de descrever. Não farei isso mais”. Ele saiu do palco claramente movido – e eu, assistindo de longe desta vez, me lembrei do que me faz voltar ao SXSW todo ano: todo mundo é tirado do lugar por ele. Até Scott Galloway.
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