Protesto de artistas contra Joe Rogan leva Spotify a começar a “marcar” episódios que discutam pandemia
Manobra não vai informar público se episódios contém ou não desinformação sobre o assunto, porém
Já é possível dizer que a briga de Neil Young com o Spotify se amplificou o suficiente para se tornar a primeira grande crise midiática da companhia em 2022. Depois do serviço de streaming confirmar na última quinta-feira (27) que havia atendido o pedido do artista e começado a remover seu catálogo do banco de dados, músicos como Joni Mitchell e Nils Lofgren se juntaram ao protesto contra o podcast de Joe Rogan, enquanto Brené Brown confirmou que vai parar temporariamente de publicar episódios em seus programas exclusivos na plataforma por conta da situação.
Com essas movimentações esquentando o criticismo da companhia e levando o Spotify a se desvalorizar em mais de dois bilhões de dólares na bolsa de valores, até que demorou para a plataforma emitir algum tipo de resposta ao caso. No último domingo (31), o CEO Daniel Ek assinou um comunicado confirmando que a empresa vai passar a informar quando podcasts presentes no serviço abordarem o tema da pandemia, com o selo de aviso redirecionando o usuário a uma central de informação atualizada de hora em hora sobre a pandemia.
Há um pulo do gato, porém: o gerenciamento de marcações promovido pelo Spotify não vai informar quando os episódios estiverem promovendo desinformação sobre a pandemia.
Além do selo, a companhia também confirmou um esforço extra de transparência para tornar suas políticas em torno do tema da pandemia e mesmo regras gerais mais visíveis a todos os usuários e criadores de conteúdo em seu site oficial. A ampla disponibilidade do regulamento não faz muito em torno da situação com Rogan, porém, com o The Verge confirmando que a própria companhia avisou os funcionários em memorandos internos que o Joe Rogan Experience “não infringiu quaisquer diretrizes para ser removido”.
Isso acontece sobretudo porque as leis do Spotify para desinformação podem ser bem amplas e vagas na hora de lidar com o assunto. O regulamento da companhia apenas proíbe conteúdos que afirmem que “AIDS, Covid-19, câncer e outras doenças que oferecem perigo à vida são uma mentira ou não existem” ou que encorajem o público “a contrair o Covid-19 de propósito para construir imunidade”, além de não permitir podcasts que sugiram que vacinas “são feitas para causar morte”.
Em meio a tudo isso, Rogan enfim se pronunciou sobre o caso em seu próprio podcast. O material, também publicado em sua conta no Instagram, traz o apresentador defendendo que seus podcasts são “apenas conversas” e que ele “não tem ideia do que vai falar até sentar na mesa” e conversar com os convidados. Ele ainda defende a participação de pessoas como Peter McCullough e Robert Malone, médicos que ficaram notórios por defender todo tipo de tese conspiratória sobre a pandemia em seu programa, dizendo que “eles tinham uma opinião diferente da narrativa mainstream” e que ele “queria ouvir essas opiniões”.
A raiz da discussão segue intocada por todas as partes na defesa, enquanto isso. O Spotify desde 2020 mantém um acordo na casa dos bilhões para ter o podcast de Rogan como conteúdo exclusivo de sua plataforma, o que dentro das discussões promovidas infere que a companhia tira lucro da desinformação propagada pelo apresentador. Como ficou claro acima, a linha de manutenção dessa relação é tênue mas segue ativa aos olhos do serviço: a plataforma não tem responsabilidade editorial sobre nenhum dos podcasts que disponibiliza ou adquire como originais.
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