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Governo federal investiu R$ 1,3 milhão em campanha com influenciadores para defender tratamento precoce

No auge do colapso de saúde em Manaus no início do ano, Secretária de Comunicação investiu R$ 23 mil para divulgar manobra, confundida com o termo "atendimento precoce"

por Pedro Strazza
Capa - Governo federal investiu R$ 1,3 milhão em campanha com influenciadores para defender tratamento precoce
Imagem: RAUL SPINASSÉ/FOLHAPRESS

Enquanto continua a se enrolar para adquirir e aplicar vacinas na população, o governo federal brasileiro segue fazendo investimentos para divulgar o tratamento precoce da Covid-19, método não recomendado por diversas organizações de saúde nacionais e internacionais. Uma reportagem da agência Pública com o UOL nesta quarta (31) descobriu que o Ministério da Saúde e a Secretaria de Comunicação gastou R$ 1,3 milhão na contratação de influenciadores digitais para ações de marketing relacionadas à manobra, reenquadrado como “atendimento precoce”.

De acordo com a matéria, apoiada num roteiro da ação obtido pela Lei de Acesso à Informação, a Secom realizou a contratação de quatro influenciadores pelo valor de R$ 23 mil para divulgar o “atendimento”. As celebridades, que incluem a ex-BBB Flávia Viana e os influencers João Zoli, Jéssika Taynara e Pam Puertas, tiveram que realizar um post e seis stories em suas contas no Instagram com a informação de que seus seguidores, caso sentissem sintomas da doença, procurassem um médico e solicitasse o atendimento precoce.

O documento criado pela Secretaria para orientar as celebridades contava com orientações específicas, incluindo posar com uma máscara no rosto ou lavando a mão. Além de recomendar uso de máscara e higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel, a Pública relata que o texto a ser veiculado pelas contas era o abaixo:

“Hoje quero falar de um assunto importante, quero reforçar algumas formas de se prevenir do coronavírus. Vamos nos informar e buscar orientações em fontes confiáveis. Não vamos dar espaço para fake news. Com saúde não se brinca. Fiquem atentos! E se identificar algum sintoma como dor de cabeça, febre, tosse, cansaço, perda de olfato ou paladar, #NãoEspere, procure um médico e solicite um atendimento precoce.”

Enquanto o montante investido pelo Secom veio do fundo destinado pelo governo federal para a campanha publicitária batizada de “Cuidados Precoces COVID-19”, o alcance da ação com influenciadores obviamente é alto. O post de Viana, lançado no dia 14 de janeiro, recebeu 33 mil curtidas no Instagram, no mesmo momento em que Manaus vivia o auge do colapso de seu sistema de saúde que rapidamente se espalharia para o resto do país. Ela recebeu sozinha R$ 11,5 mil do valor usado pela Secretaria.

O Ministério da Saúde, por sua vez, investiu em múltiplas ocasiões em campanhas com influenciadores ao longo do último ano. O gasto acontece desde março de 2020, quando usou R$ 400 mil em cinco influencers para conteúdos sobre família e bem estar que promovessem cuidados básicos como lavar as mãos e tossir nos cotovelos. Na ocasião, porém, os perfis de Instagram e YouTube (entre eles Vovó de Seis, Vovó Janete, NerdShow e Professor Paulo Jubilut) não foram orientados a promover o uso de máscaras e o isolamento e distanciamento social, medidas importantes no combate a pandemia.

Outra campanha foi veiculada em maio do mesmo ano para propagandear o TeleSUS, plataforma de medicina remota do ministério, e “informar sobre o coronavírus e difundir métodos de prevenção”. O valor aumenta desta vez: R$ 500 mil foram utilizados para pagar a dupla sertaneja Henrique e Diego, o youtuber Igão e as influenciadoras Nanda Caroll e Camila Loures, além de novamente a ex-BBB Flávia Viana – que recebeu R$ 10 mil desta vez.

Por fim, em julho, mais R$ 400 mil foram gastos para contratar influenciadoras mães para divulgar “estratégias e meios de estimular o desenvolvimento de nossas crianças durante a pandemia”, de acordo com documento enviado pela agência R2 Produções e Eventos.

Esta não é a primeira vez que material do governo federal confunde os termos “atendimento precoce” e “tratamento precoce”. Em janeiro, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi pego na mentira ao dizer durante coletiva que seu ministério indicava o atendimento precoce e não o tratamento, conforme o aplicativo TrateCov, feito para ajudar médicos no diagnóstico, era programado para recomendar apenas remédios como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina – todos envolvidos na prática do tratamento precoce, não recomendada pela Organização Mundial da Saúde e a Sociedade Brasileira de Infectologia.

Além disso, uma publicação feita no Twitter pelo Ministério da Saúde no mesmo mês foi marcada como desinformação pela rede social por propagar “informações enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à Covid-19”. Na ocasião, o perfil mandava os cidadãos que tivessem sintomas da doença a buscar a UBS para solicitar o “tratamento precoce”.

Toda essa movimentação é mínima comparado aos gastos gerais do Ministério da Saúde com publicidade, vale acrescentar. Se entre 2019 e 2020 o ministério investiu mais de R$ 10 milhões para campanhas de temas como combate à tuberculose, doação de sangue e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, o UOL aponta que menos de 27% do total gasto no último ano foi direcionado a ações relacionadas ao coronavírus.

Você pode ler na íntegra a reportagem da Pública aqui.

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