Seis livros de Dr. Seuss deixarão de ser publicados por imagens racistas
Empresa responsável pelo legado afirma que decisão foi tomada no último ano e após um rigoroso processo de avaliação da obra do autor
A Dr. Seuss Enterprises confirmou nesta terça (2) que seis livros de Dr. Seuss deixarão de ser comercializados e publicados por conta de imagens racistas. À Associated Press, a empresa responsável pela manutenção dos direitos e legado do autor escreve que as obras “retratam pessoas de uma maneira que é danosa e errada” e que a decisão “é apenas parte de nosso comprometimento e plano maior de garantir” que o catálogo “represente e apoie todas as comunidades e famílias”.
Os livros incluídos na ação no caso são “If a Ran the Zoo”, “And to Think That I Saw It on Mulberry Street”, “McElligot’s Pool”, “On Beyond Zebra!”, “Scrambled Eggs Super!” e “The Cat’s Quizzer”, todos inéditos no Brasil. De acordo com a Dr. Seuss Enterprises, a decisão foi tomada no ano passado e após meses de discussão e ouvidoria, com a empresa recebendo feedback de professores, acadêmicos e especialistas e elaborando um painel de diferentes convidados para avaliar o catálogo e determinar que títulos deveriam ser retirados de circulação.
Embora continue a ser um autor infantil extremamente popular nos dias de hoje – o Washington Post reportou em 2015 que mais de 650 milhões de cópias de seus livros haviam sido vendidas ao redor do mundo – o legado de Dr. Seuss já há um tempo é alvo de críticas pelo reforço de estereótipos racistas e a propagação de ideais da supremacia branca. Um estudo de 2019 publicado na Research on Diversity in Youth Literature examinou 50 livros do escritor e concluiu que 43 dos 45 personagens não brancos retratados contavam com características “alinhadas com a definição de orientalismo”, termo usado para definir registros estereotipados e ofensivos da Ásia, enquanto dois personagens “africanos” contavam com traços racistas.
Entre os livros incluídos no banimento, o estudo aponta por exemplo que “The Cat’s Quizzer” retrata um personagem japonês com um rosto amarelo e próximo “do que aparenta ser o Monte Fuji”, além de ser referenciado apenas como “um Japonês”. Já em “If I Ran the Zoo”, provavelmente o mais conhecidos dos seis títulos, os três únicos personagens asiáticos que não usam chapéus triangulares carregam nas costas um homem branco com uma arma em suas cabeças, uma imagem que representa dominância racial – e o texto de Seuss não ajuda muito, com a pesquisa apontando que eles são descritos como “ajudantes que trazem em seus olhos uma inclinação típica de países que ninguém consegue soletrar”.
Além disso, os trabalhos de Seuss de sua época de estudante na Darmouth College trazem todo tipo de ilustração antissemita e racista, com direito a boxeadores negros retratados como gorilas e judeus desenhados como avarentos por natureza.
Enquanto a Dr. Seuss Enterprises afirma que vai continuar a avaliar o catálogo para determinar se mais obras devem ou não continuar a ser publicadas – incluindo aí “O Gatola na Cartola”, um dos livros mais famoso do autor – o anúncio de hoje acompanha um movimento recente de reavaliação de publicações infantis em torno do tema do racismo. Caso mais célebre é o de Babar, cuja série foi duramente criticada em anos recentes por trazer celebrações do colonialismo.
O mais curioso, porém, é que a decisão de retirada dos livros acontece na mesma data em que se comemora o aniversário de Dr. Seuss, que em 2021 teria feito 117 anos.
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