Novo estudo mostra que lockdown não diminuiu tanto assim a poluição na Terra
Descobertas implicam diretamente em como pensar políticas abrangentes para reduzir as várias formas de poluição do ar
Quando o lockdown tomou conta da maior parte dos países, muito se falou sobre o quanto o isolamento social estava ajudando a diminuir a poluição na Terra. Diversos relatórios mostraram que enquanto os níveis de atividade em muitos setores caíram, a poluição do ar global também diminuiu. Porém, segundo uma nova pesquisa publicada na Science Advances, podemos ter superestimado essas reduções na poluição do ar.
O novo estudo examina as mudanças nas concentrações atmosféricas de poluentes tóxicos do ar, incluindo partículas finas (PM2.5), dióxido de nitrogênio e ozônio, em 11 cidades ao redor do mundo que implantaram severas restrições de isolamento social durante a pandemia. Os dados eram bem específicos, incluindo os níveis de poluição coletados de hora em hora de dezembro de 2015 a maio de 2020, obtidos de agências ambientais locais e nacionais ou de empresas terceiras credenciadas.
Com isso, os autores descobriram que alguns estudos anteriores sobre reduções na poluição do ar durante a pandemia não isolaram suficientemente os efeitos dos próprios bloqueios das mudanças climáticas. Por exemplo, temperaturas mais baixas podem retardar as reações que causam a formação de poluentes, e tanto a chuva quanto os ventos fortes podem fazer com que os poluentes se dispersem mais rapidamente. O novo estudo tenta remediar isso criando um novo modelo de aprendizado de máquina para isolar e remover os impactos do clima nos níveis de poluição.
Assim, a nova análise sugere que as concentrações de dióxido de nitrogênio realmente diminuíram drasticamente em todas as 11 cidades durante as restrições ao coronavírus. Mas enquanto estudos anteriores mostraram quedas na ordem de 60% em média, o novo estudo descobriu que apenas uma redução de 30% foi atribuída aos bloqueios em média.
O estudo também descobriu que todas as 11 cidades viram aumentos nos níveis de ozônio, o que poderia compensar alguns dos benefícios à saúde da redução do dióxido de nitrogênio. Quando se trata de PM2.5, Wuhan e Delhi – as cidades mais poluídas das examinadas – viram declínios significativos. No entanto, o estudo não encontrou “mudanças claras” em outras cidades.
Essas discrepâncias podem ser devidas ao modo como as diferentes fontes de poluição foram afetadas pelas restrições do isolamento social. Grande parte da produção mundial de dióxido de nitrogênio, por exemplo, vem de carros, caminhões, ônibus e aviões, que circularam muito menos durante o lockdown. Porém, outras fontes importantes de poluição por ozônio e PM2.5, como usinas de energia, caldeiras industriais e refinarias, não viram reduções em suas atividades.
As descobertas implicam diretamente em como pensar políticas abrangentes para reduzir as várias formas de poluição do ar.
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