Megalomaníaco, painel da WarnerMedia na CCXP Worlds é marcado por falta de conteúdo
Presença de Zendaya e Sam Levinson para falar de "Euphoria" é o ponto alto de uma apresentação de seis horas de duração que não conseguiu justificar o próprio tamanho
// Texto por Matheus Fiore e Pedro Strazza
Ambição não faltou para a WarnerMedia na CCXP Worlds. Depois de explodir o auditório principal em 2019 e na esteira do sucesso descomunal do DC FanDome, o estúdio este ano retornou ao evento disposto a combinar seus dois grandes feitos em um só, apostando principalmente na interligação de todas as propriedades da companhia. Em tese, o resultado era um painel mastodôntico: ao invés de ocupar a Thunder Arena em horários fracionados, foi vendido um único painel de seis horas, com nenhuma previsão de intervalo e todo tipo de conteúdo para suprir os fãs.
Na prática, porém, o que se viu foi um tanto anticlimático. Com tantas propriedades distintas e que em nada se relacionam de atração, o painel da WarnerMedia só engrenou mesmo quando chegou nas apresentações mais esperadas – respectivamente da HBO e da DC Comics – o que só foi acontecer quatro horas depois do início dos trabalhos. A ideia de unir projetos da Warner Bros., HBO, Warner Channel, Warner Games, Cartoon Network e Adult Swim era simpática, mas ao invés de uma crescente houve uma corrente de eventos muito nichados – ou seja, ninguém conseguia justificar a decisão de unificação para além de uma busca exaustiva pelo máximo de audiência virtual.
Foi uma montanha-russa de poucos loopings, até mesmo dentro de cada uma das divisões. Se o Cartoon Network foi ágil na apresentação com os criativos de “O Mundo de Greg”, o painel de “Irmão de Jorel” conseguiu ser bastante arrastado mesmo em tese sendo o programa mais popular. Um episódio na íntegra e um featurette de “Primal”, nova série animada de Genndy Tartakovsky, pareciam vir para compensar uma conversa pra lá de requentada com dubladores, produtores e o criador de “Rick e Morty”.
Foi só depois de um aquecimento na forma de uma conversa com Ed Boon sobre “Mortal Kombat 11” que o evento começou pra valer, quando os apresentadores introduziram os artistas mirins Dafne Keen e Amir Wilson para falar de “His Dark Materials”. Com a adaptação de “Fronteiras do Universo” em seu segundo ano consecutivo na CCXP, o tom do painel foi mais ou menos o mesmo do de 2019: o programa foi até comparado com “Game of Thrones” no esforço de gerar mais interesse sobre a história, enquanto os dois convidados buscavam agradar os fãs.
Keen e Wilson falaram sobre a escala dos sets, a experiência de trabalhar com um elenco formado por gente do porte de James McAvoy, Lin-Manuel Miranda e Ruth Wilson, responderam perguntas obrigatórias sobre a relação com o Brasil e até escolheram entre Westeros e Hogwarts como destino de viagem. O ponto alto foi quando Keen comentou a importância de ver mais mulheres empoderadas na TV, conforme aos seus olhos a experiência do gênero feminino na infância.
Depressão e pandemia
A Warner só foi registrar seu primeiro bom momento do dia com a apresentação de “Euphoria”, que aproveitou o lançamento de dois episódios inéditos neste fim de ano para trazer ao evento a atriz Zendaya e o criador Sam Levinson. A proximidade de material inédito ajudou o painel a se destacar do restante, sobretudo se considerar o cenário da pandemia e como eles foram filmados.
Mas segundo Levinson, filmar no meio de um mundo tomado por distanciamento social não implicou um clima de produção menor às filmagens. “Íntimo não seria a palavra que usaria” diz em determinado momento; “O episódio é mais íntimo, sim, mas as restrições do coronavírus criaram um espaço diferente”.
Os episódios são situados entre a primeira e a vindoura segunda temporada, centrados na dinâmica entre a protagonista Rue e o parceiro de rehab Ali (Colman Domingo) durante a época de Natal perante a pandemia. O tom é muito diferente do resto do programa, com Levinson admitindo ter ido contra seu modo de operação e concentrado muito mais atenção no roteiro desta vez. “É o retrato de duas pessoas numa mesa durante as festas, conversando sobre assuntos profundos relacionados a dores e a alma” diz o showrunner, que ainda vê reforçado nos capítulos a relação dos personagens em torno do esforço de se manter sóbrio de drogas.
“Ali vê o ato de ajudar Rue como uma forma de compensar por todos os erros, e algo que é muito particular do vício é que depois de você se limpar você pensa ‘como posso ser melhor?'” diz o produtor, que antes ainda afirma que “Rue ainda tem a oportunidade de mudar, e a decisão de percorrer este caminho é com ela”.
A principal motivação para criar os episódios, porém, decorreu mesmo do isolamento social. “Eu sinto falta da Rue, eu sinto falta da equipe.” comenta Levinson; “Durante a pandemia a gente ficava pensando em formas de ser inventivo enquanto se mantendo seguros de qualquer contágio. Eu não queria esperar tanto pro programa voltar”. Para Zendaya, isso se traduz em companheirismo: “É um sistema de apoio, depois das cenas mais difíceis as vão te conferir o tempo todo se tudo está certo”.
Espremendo o bagaço da laranja
Para abrir a apresentação da DC na CCXP Worlds, Jim Lee, quadrinista famoso por seu trabalho com personagens como Batman e Super-Homem, deu as caras. Antes de elogiar o público brasileiro, que conheceu ao visitar uma edição anterior da CCXP, Lee falou um pouco sobre as novidades da DC e sobre os planos da empresa para explorar o multiverso da DC. Poucos depois, o evento recebeu Patrick Redding, diretor criativo da Warner Games, para falar um pouco sobre “Gotham Knights”, novo jogo ambientado no universo Batman que tem uma proposta interessante: nele, Batman está morto, e um grupo de vigilantes tenta ocupar a lacuna deixada pelo justiceiro.
“Os heróis precisam lidar com um mundo totalmente novo de ameaças e problemas na ausência de seu mentor”, afirmou Redding, ao comentar sobre o pano de fundo do game que apresenta uma Gotham City na qual Batman acaba de falecer . “Em termos de inspiração, uma coisa boa do universo Batman é que você tem um legado imenso de aliados do Batman que compartilham o DNA do personagem e possuem suas próprias filosofias, origens e habilidades. Esses personagens são interessantes porque todos possuem um grande desenvolvimento desde suas origens até se tornarem heróis maduros. Do ponto de vista do desenvolvimento de jogos, isso dá muitas oportunidades para criar uma experiência interessante”.
Redding ainda afirmou que “Gotham Knights” se situa em uma linha do tempo totalmente própria e independente, misturando referências de variados jogos como a série “Arkham”. A ideia é redefinir a cidade e o universo, criando uma experiência de jogabilidade única. A escolha de afastar Gotham do Batman faz certo sentido, já que a série “Arkham” foi o maior sucesso do personagem na história dos games, e parecia ser ainda cedo para voltar a criar uma franquia “Batman” para os games. “Gotham Knights”, portanto, é uma grande aposta da Warner Games para descansar o herói sem deixar o rico universo de Gotham de lado.
Antes de adentrar os filmes e principais séries, o painel da Warner ainda nos apresentou um bate-papo sobre suas próximas animações. Para começar, um mini-painel falou sobre “Batman: Soul of the Dragon”, que chega em janeiro em DVD e Blu-Ray. O bate-papo trouxe elenco e produção da animação para um bate-papo sobre o filme. Ainda teve um pequeno painel sobre DC Future State, novo mini-evento da DC Comics nos quadrinhos que deve dar uma nova cara para toda a linha editorial da DC. Fechando essa parte de sua apresentação com uma conversa com o elenco de “Pennyworth”, com a protagonista de “Batwoman” e com Danielle Nicolet e Kayla Compton de “The Flash” a Warner finalmente adentrou o material principal.
Com Marcos Mion no palco, a DC mostrou um pouquinho de cada um de seus filmes. Para começar, apresentou “Esquadrão Suicida”, o filme de James Gunn que reintroduz o grupo de vilões nos cinemas. Para o papo, a DC trouxe o próprio diretor e a atriz brasileira Alice Braga. A própria Alice conduziu a conversa, que começou com Gunn dizendo que a montagem (e, claro, as filmagens), já estão finalizados, e continuou com uma participação do elenco principal falando sobre a ação no set. Em seguida, um curto vídeo mostrou Andy Muschietti, diretor de “The Flash”, falando sobre seu vindouro filme: “Vamos levar o universo DC para lugares em que ele nunca esteve antes”, prometeu o argentino.
Depois de muitos aperitivos e poucos pratos principais, às 20h40, a apenas vinte minutos do fim do evento, a Warner finalmente trouxe algo grande para o público. Patty Jenkins surgiu no palco e apresentou o elenco de seu próximo filme, “Mulher-Maravilha 1984”, composto por Gal Gadot, Chris Pyne, Kristen Wiig e Pedro Pascal. Comentando sobre a química entre os personagens, Gadot e Wiig falaram sobre uma constante tensão entre a heroína e a vilã: “Você sente que sempre há uma tensão entre as duas, desde a primeira vez em que se encontram”. O filme parece focar bastante na vilã de Wiig, já que os antagonistas do longa anterior, de 2016, foram bastante criticados por serem, digamos… Genéricos. Para fechar, Marcelo Forlani assumiu o controle do evento para entrevistar Pedro Pascal, mas as perguntas se limitaram a curiosidades sobre a produção e o relacionamento de Pascal com seus colegas de set.
Para quem teve um dia inteiramente dedicado aos seus projetos, a Warner decepcionou. Tudo que diz respeito aos seus lançamentos mais aguardados se resumiu a comentários muito superficiais e genéricos. Ao fim, não foi apresentada nenhuma novidade, não foi mostrado nada que o público aguardasse. Foi um evento que segurou os fãs (ou a audiência) por seis horas apenas para mostrar os rostos de suas celebridades favoritas enquanto elas diziam que os filmes de 2021 e 2022 serão muito legais. Para uma apresentação tão megalomaníaca foi pouco, muito aquém do que os outros estúdios preparam nas mesmas condições – e com muito menos tempo.
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