Anúncios no Facebook sobre negacionismo climático chegam a 8 milhões de americanos
Cumulativamente, esses anúncios custaram US$ 42 mil para serem executados, e apenas um deles foi removido pelo Facebook por infringir suas diretrizes
Segundo uma pesquisa realizada pela InfluenceMap, o alcance total de anúncios no Facebook com teorias que negam a crise climática mundial chegou a impactar 8 milhões de americanos só no primeiro semestres de 2020. O estudo identificou 51 anúncios contendo desinformação sobre o clima, todos financiados por grupos conservadores, incluindo afirmações sobre as mudanças climáticas serem uma farsa.
A InfluenceMap categorizou as fake news em três grandes grupos para o seu relatório: mentiras sobre informações científicas a respeito do clima, construção de marca sobre o tema, e políticas climáticas/influência eleitoral. A análise levou em conta uma amostra representativa de anúncios de autoria de thinktanks e anunciantes com motivação política, ligados à disseminação da desinformação sobre a crise climática.
A amostra revelou 51 anúncios com desinformação sobre o tema, principalmente direcionados a homens com mais de 55 anos em áreas rurais dos Estados Unidos.
Também foram encontrados anúncios dirigidos a públicos de 18 a 34 anos, cujos conteúdos desafiavam predominantemente o provável impacto futuro das mudanças climáticas no planeta.
A estratégia mais comum usada pelos anúncios é atacar a credibilidade da ciência, alegando, por exemplo, que não há um consenso amplo sobre as mudanças climáticas. A segunda estratégia mais usada envolve lançar dúvidas de que os gases de efeito estufa liberados pela queima de combustíveis fósseis são a causa das mudanças climáticas.
Cumulativamente, esses anúncios custaram US$ 42 mil para serem executados. Apenas um deles foi removido pelo Facebook por infringir suas diretrizes, com os outros 50 sendo executados conforme programado, apesar das afirmações da empresa sempre afirmarem que a plataforma usa verificadores de fatos e proíbe a propaganda enganosa.
Uma suposição sobre o conteúdo desses anúncios passarem pela análise do Facebook seria uma lacuna nas regras e procedimentos da empresa, que faz com que determinados conteúdos não sejam bloqueados para que “não interfiram na expressão individual, nas opiniões e no debate”.
Dois anúncios, ambos da ONG PragerU, foram publicados no dia 23 de janeiro e rodaram até 1º de outubro. O anúncio era intitulado: “Não tenha dúvidas sobre isso: a histeria sobre a mudança climática é para vender o Grande Controle do Governo”. De acordo com as políticas da rede, esse tipo de anúncio não poderia ter sido veiculado, já que a plataforma “proíbe anúncios que incluam alegações desmascaradas por verificadores de fatos terceirizados”.
Do ponto de vista das marcas, a negação das mudanças climáticas também se tornou uma questão de posicionamento para muitas, dada a proliferação de informações enganosas e maliciosas sobre o tema. Empresas como L’Oreal, Uber e Samsung, por exemplo, se envolveram em uma polêmica depois que um relatório mostrou que o YouTube vinculava anúncios dessas empresas em vídeos contendo informações erradas sobre mudanças climáticas.
Situações como essa tem forçado as marcas a terem mais atenção com os conteúdos de seus anúncios nas redes sociais, a fim de reduzir o risco de serem vinculados às teorias negacionistas. De acordo com um estudo recente da Edelman, 69% do público acredita que os anunciantes devem interromper todas as negociações com plataformas que compartilham informações enganosas.
O novo relatório chega apenas duas semanas depois que o Facebook anunciou seu Centro de Informações sobre Ciência do Clima, um programa de verificação de fatos projetado para amenizar a preocupação de que a plataforma sirva como porta-voz para extremistas.
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