Em "Rough and Rowdy Ways", Bob Dylan dá aula de cultura enquanto fala de si mesmo em registro íntimo • B9

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Capa - Em “Rough and Rowdy Ways”, Bob Dylan dá aula de cultura enquanto fala de si mesmo em registro íntimo

Em “Rough and Rowdy Ways”, Bob Dylan dá aula de cultura enquanto fala de si mesmo em registro íntimo

39º disco do cantor é como um livro musicado, com longos capítulos que detalham acontecimentos históricos e décadas de memórias distantes

por Soraia Alves

Existem artistas que nos passam a sensação de que não precisam fazer mais nada, tamanho o legado cultural que já possuem. Essa é a sensação quando Gilberto Gil, por exemplo, em comemoração ao seu 78º aniversário, faz uma live musical que também é aula sobre música brasileira e cultura nordestina. Sentimos que o presente é nosso, um privilégio do qual podemos desfrutar. O mesmo sentimento brota no coração ao ouvir o novo álbum de Bob Dylan, “Rough and Rowdy Ways”: que privilégio tremendo ter acesso à tal obra.


Aos 79 anos, sendo 60 deles como músico, Dylan vem cantando há décadas sobre as mudanças no mundo, mas é difícil não pensar o quanto muitas dessas mudanças foram mínimas, uma vez que as lutas ainda parecem ser as mesmas. Assim, a morbidez na qual o cantor se colocou nos últimos anos, e que originou até mesmo uma “lenda” sobre sua obsessão pela morte, não é tão difícil de entender.


“Rough and Rowdy Ways”, porém, é o trabalho mais pessoal de Dylan nos últimos anos, e traz uma visão poética e literária que o transforma em uma ode à cultura, ainda que carregue os lamentos de um velho que vê a morte como iminente a tudo e todos.



A erudição lírica permite que o cantor faça referências a Al Pacino e Freud, Júlio César e Karl Marx, Beatles e Hamlet, e mais uma enorme variedade de personalidades e obras. Como Gil em sua live, Dylan usa o espaço que tem para ensinar sobre cultura falando de pintura, poesia, literatura, música e cinema. Só em “I Contain Multitudes”, o músico se compara a Edgar Allan Poe, Anne Frank, Indiana Jones, William Blake e os Rolling Stones: “Eu vou direto ao limite, direto ao final. Vou direto aonde todas as coisas perdidas são transformadas em boas novamente”, canta na faixa que abre o disco e que é um íntimo autorretrato de um artista recluso, avesso às entrevistas e que não faz questão alguma de ser simpático, nem mesmo com seus fãs.

Sonoramente, o álbum é extremamente delicado em cada arranjo, mesmo quando trabalha com a forma mais crua do blues sulista, como em “Goodbye Jimmy Reed”, uma homenagem ao bluesman citado no título. É também nas faixas bluseiras cheias de guitarras e pianos que mais podemos observar como Dylan coloca a voz de forma mais suave que o estilo adotado em seu último disco de inéditas, “Tempest” (2012). A rouquidão está ali, claro, com charme e identificação, mas também com um timbre gutural bem menos excessivo.



Em “Key West (Philosopher Pirate)”, uma das canções mais belas do trabalho, a sutileza do acordeão casada aos vocais de apoio quase imperceptíveis é encantadora. Já em “False Prophet”, Dylan conclui sem modéstia: “Eu sou o último dos melhores, você pode enterrar o resto”. E isso não parece tão presunçoso vindo do primeiro compositor a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 2016.

De certa forma, “Rough and Rowdy Ways” é um livro musicado, com longos capítulos que detalham décadas que sempre prometeram mudanças. Com trechos que descrevem acontecimentos históricos e memórias distantes. Um livro carregado de muita nostalgia e cujo desfecho é, inevitavelmente, a morte, seja lá quando ela vier: “Deixe-me passar, abra a porta. Minha alma está angustiada, minha mente está em guerra”, pede o cantor em “Black Rider”.

A épica canção de 17 minutos, “Murder Most Foul”, é a síntese da obra. Partindo do assassinato de John F. Kennedy, a faixa revisita cultura e sociedade dos anos seguintes. É a própria trajetória de Dylan, tudo o que ele viu e ouviu, tudo o que o influenciou embalado pela linda melancolia do combo piano e violino.



Mesmo que a ideia da morte povoe seus pensamentos, Bob Dylan parece mais interessado em ressaltar tudo o que fez parte de sua vida até aqui, de Chopin a “Scarface”, passando pelo amor como um ato de decisão e dedicação, e pelo encarar a vida sempre com algum propósito: “Sou o inimigo da vida sem sentido e não vivida”, canta em “False Prophet”. Propósito realmente nunca faltou a Dylan, seu legado precioso é a prova.

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