Cannes Live: para Scott Galloway, pandemia nos fez passar por uma década em semanas
Em transmissão online, professor da Universidade de Nova York traçou algumas das consequências do coronavírus à economia mundial
Esta semana seria aquela em que boa parte da indústria da publicidade estaria reunida pra celebrar o trabalho do ano anterior e discutir seu futuro em Cannes, na riviera francesa.
Figurinha carimbada nas últimas edições do evento, o professor da NYU Scott Galloway veio ao palco virtual do Cannes Live para fazer sua tradicional rodada de previsões pro ano seguinte. Pra quem não o conhece, ele é conhecido por sua habilidade em consolidar e ler múltiplas fontes de dados pra antecipar tendências, movimentos estratégicos de empresas e categorias – e um pouquinho do futuro, também.
Por razões óbvias, este ano o foco da conversa foi o impacto da pandemia no futuro. Galloway não decepcionou e falou com a acidez de costume de diversas consequências:
Os ricos sairão da pandemia mais ricos e os pobres, mais pobres. E isso vale também pra pessoas e pra empresas: Galloway comenta que nos EUA os maiores beneficiários do pacote de assistência do governo às pessoas são a Amazon e o Walmart – porque as lojas pequenas estão, em sua maioria, fechadas para o público.
Do ponto de vista de digitalização, o avanço é claro: em pouco mais de 12 semanas, avançamos uma década. Isso tem enormes consequências para os negócios, e aqui mais uma vez o professor faz seu ponto contra o avanço quase incontrolável das Big Tech: são elas que colhem mais rápido os lucros deste movimento e por isso são elas que também recebem mais capital a um custo menor. Isso propaga um ciclo virtuoso que, do ponto de vista dele (e do meu, também!), é um perigo enorme pra economia, uma vez que cria uma concorrência desleal pra estes players.
Categorias como educação e saúde, que já vinham marchando com maior velocidade pro epicentro do furacão da disrupção, agora são enormes espaços de oportunidade pra empreendedores com espírito inovador – e como a tendência será da pandemia diminuir ou eliminar alguns dos custos pra empreender (espaço físico e mão de obra, especialmente), nunca houve tempo melhor para a modalidade.
Olhando estes e outros impactos, Galloway terminou a palestra dando dicas pra pessoas, executivos e investidores sobre como melhor sobreviver à pandemia. Repito as mais importantes abaixo:
Diminua a velocidade com a qual você gasta dinheiro (na pessoa física e na jurídica). Renegocie contratos, enxugue os pequenos luxos e indulgências. Parte do aprendizado vindo da pandemia deveria ser entender o que é realmente importante pra você e pra sua empresa.
Para executivos e investidores: entenda onde está o seu consumidor (lembre-se, avançamos uma década em dez anos!) e monte um plano pra que em 12 ou 24 meses você possa encontrá-lo. Neste plano, deixe clara sua visão, tanto para seus consumidores quanto a seus investidores.
Cuide dos seus relacionamentos. Pense nos seus pais (é hora de cuidar deles?), no tipo de relação que você tem com os seus irmãos e em quanto você tem investido e se dedicado às suas amizades.
O último conselho é, pra ele e pra mim, o mais importante. Porque como diz Esther Perel (e eu já falei disso aqui), a qualidade das nossas relações determina nossa qualidade de vida. Em tempos pandêmicos, o suporte que recebemos e podemos dar a quem queremos bem é o que definitivamente nos ajuda a lembrar que somos humanos – e que vamos passar por essa.
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