- Cultura 5.maio.2020
“Beastie Boys Story” é homenagem “palestrinha” a Adam Yauch
Documentário nostálgico dirigido por Spike Jonze ressalta a amizade do trio, mas formato tira espontaneidade característica dos Beastie Boys
Alguns artistas conseguem criar uma identidade tão única que é quase impossível desassociá-los da mesma. Esse é o caso dos Beastie Boys, tão icônicos e originais que qualquer tentativa de replicar suas peculiaridades sonoras e estéticas pode parecer patético. O mundo da música deve muito a eles, desde as bases para o rock alternativo até perspectivas irreverentes reproduzidas em clipes de outros artistas décadas depois. E é exatamente irreverência e espontaneidade que faltam em “Beastie Boys Story”, documentário dirigido pelo amigo de longa data da banda, Spike Jonze, e que estreou com exclusividade na Apple TV+.
O material gravado no Kings Theatre, um cine-teatro localizado no Brooklyn, mostra Adam Horovitz (Ad-Rock) e Michael Diamond (Mike D) comentando parte das histórias que relataram em “Beastie Boys Book”, livro lançado pelos dois integrantes do trio em 2018, seis anos depois da morte do amigo e terceiro membro da banda, Adam Yauch. O formato é realmente uma apresentação na qual Horovitz e Diamond contam suas lembranças, conferem fotos e vídeos no telão e interagem com os fãs.
É claro que há um sarcasmo embutido na imagem padrão assumida por Ad-Rock e Mike D no palco do teatro, tão diferente da postura abusada dos músicos no passado. É uma notória mensagem de que os tempos são outros e as coisas mudam.
Ainda assim, ver os Beastie Boys seguindo um roteiro do início ao fim não é exatamente o que você imagina sobre um documentário da banda, mesmo que os fãs não se importem realmente com isso.
É culpa do formato também que, em alguns momentos, sentimos que o texto não entrega exatamente tudo o que deveria ser dito, deixando a sensação de apenas uma mea-culpa. É o que acontece quando Ad-Rock aborda o tratamento dado à Kate Schellenbach (atualmente produtora do programa “The Late Late Show with James Corden”). Membro original da banda, Kate foi dispensada do então quarteto depois que eles assinaram com a Def Jam. Porém, ao mostrar cenas depois como a relação dos Beastie Boys com Russell Simmons e Rick Rubin se tornou conflitante, o peso das decisões até então recaí automaticamente mais sobre os produtores que sobre a banda.
Dos bons momentos do documentário, especialmente para os amantes de histórias que envolvem a criação de música, é prazeroso ver a construção de faixas como “Fight For Your Right”, “No Sleep Till Brooklyn” e, claro “Sabotage”, nascida praticamente inteira das linhas de baixo de Yauch. É também de se sair perguntando como e por quê o álbum “Paul’s Boutique” foi mal recebido pela crítica da época.
Mas “Beastie Boys Story” é mesmo uma grande homenagem a Adam Yauch – e esse é também o seu mérito. Todo o roteiro é construído para mostrar, entre a nostalgia de imagens antigas e reflexões, como Yauch era a mente criativa da banda, como suas ideias e incursões musicais influenciavam diretamente os discos e como também era ele o responsável por grande parte do visual inconfundível dos clipes.
A homenagem fica ainda mais clara quando chega o momento de contar sobre o último show realizado pelos Beastie Boys no festival Bonnaroo, em 2009. A emoção ali é realmente sobre a falta que o terceiro amigo faz na vida de Ad-Rock e Mike D. Yauch era mesmo especial e essa amizade sempre foi o que manteve a banda unida, mesmo com todos os elementos que podem fazer um grupo se separar – ou amigos que se conhecem tão jovens.
Para os fãs, duas horas de papo entre Ad-Rock, Mike D e um telão com certeza ainda será pouco. Mas para representar uma banda tão singular, “Beastie Boys Story” é trivial demais.
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