O adiamento de “Minions 2” pelo coronavírus é muito mais preocupante do que parece
Animação abre precedente perigoso na indústria ao se tornar o primeiro filme de 2020 a ter estreia comprometida não pelo impacto do vírus nas bilheterias, mas na própria cadeia de produção
Além das vítimas que continua gerando ao redor do globo, o coronavírus até o momento vem se mostrando bastante poderoso para derrubar eventos e fechar estabelecimentos, e isso inclui o cinema. Só na última semana todos os lançamentos de Hollywood até o começo de maio caíram, os cinemas ao redor do mundo fecharam e os grandes estúdios estadunidenses passaram a considerar uma opção séria romper com tradicional janela de exibição nas telonas para adiantar a estreia no streaming. Até mesmo o Festival de Cannes confirmou adiamento devido à crise.
Mas ainda que o cancelamento momentâneo de filmes como “007: Sem Tempo Para Morrer”, “Velozes e Furiosos 9”, “Um Lugar Silencioso – Parte II” e “Mulan” carregue um peso óbvio (e em especial financeiro) e a postergação de Cannes vá criar um efeito borboleta gigantesco no meio, por incrível que pareça a notícia que deve gerar mais alarme no momento na indústria é o do adiamento de “Minions 2: A Origem de Gru”.
A questão aqui não envolve quando a continuação dos mascotes amarelos da Illumination Entertainment chegará aos cinemas, mas o porquê desta ser atrasada no calendário. Embora previsto inicialmente para o distante dia 2 de julho, a animação acabou adiada porque o trabalho do estúdio de pós-produção na França foi comprometido pelo impacto da pandemia no país. Seguindo diretrizes do governo e prezando pela saúde dos funcionários, a Illumination fechou seu escritório no centro de Paris, mas com isso não será capaz de finalizar o projeto a tempo de uma estreia em julho. Segundo o Hollywood Reporter, uma nova data ainda será anunciada pela distribuidora.
Esta consequência abre um pressuposto complexo na atual situação. Embora a Universal tenha já deixado de lançar três grandes produções nos cinemas por conta da pandemia – incluindo aí “Sem Tempo Para Morrer”, “Velozes e Furiosos 9” (que ficou para 2021, aliás) e o “Trolls 2” que ficou pro streaming – a companhia e suas concorrentes até então só havia cancelado datas de estreia por conta do impacto imediato do coronavírus, para segurança dos espectadores e profissionais envolvidos e também pela queda brutal de público nas salas. Com o segundo “Minions”, este cenário muda: é a primeira vez desde a explosão da doença que um projeto é afetado em uma instância de criação, da inviabilização do fechamento do filme a tempo de suas primeiras exibições.
O principal efeito é óbvio e se relaciona ao primeiro mês do terceiro trimestre do calendário: julho é o ápice da temporada de verão nos Estados Unidos, um período que é marcado por blockbusters de orçamento milionário e que hoje depositam um grande investimento em efeitos visuais resolvidos na pós-produção. “Minions 2” é o primeiro de uma nova fileira de dominós que podem começar a cair a partir de agora, e Hollywood arrisca com isso perder mais uma sequência de produções de grande retorno financeiro – incluindo aí “Top Gun – Maverick”, “Free Guy”, “Jungle Cruise” e “Tenet”, todos marcados para sair em julho nos cinemas, e até mesmo produções da reta final do ano, que contam com uma agenda corrida para serem finalizados a tempo.
É mais um dilema a ser enfrentado pelo meio, que já lida no momento com as consequências da postergação de inúmeros projetos deste início de segundo trimestre e agora o adiamento de Cannes, um ponto importante para o circuito de festivais e que arrisca até não acontecer devido à pandemia. A única certeza possível neste cenário é que, a partir de agora, todo o calendário pré-estabelecido do ano deve passar por uma série de alterações nas próximas semanas.
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