Sem “pobres e feios”: novamente, TikTok é acusado de censurar conteúdos para atrair mais usuários
Reportagem do Intercept mostra que a política de moderação do app escondeu conteúdos descritos como "favelas, miséria e barriga de cerveja"
De acordo com uma reportagem exclusiva do Intercept, o TikTok instruía seus moderadores a esconder vídeos nos quais aparecem pessoas deficientes e “feias”, assim como conteúdos em lugares considerados pobres. Os documentos também mostram que a censura se estendia para discursos políticos feitos em transmissões ao vivo.
Além dos documentos analisados, o Intercept conversou com diferentes fontes que trabalharam no TikTok, e que confirmaram as restrições impostas pela plataforma. Na descrição dos conteúdos a serem moderados estão coisas como “favelas, miséria, barriga de cerveja, muitas rugas, forma corporal anormal, aparência facial feia e sorrisos tortos”, além de “vídeos que difamam funcionários públicos” ou ameaçam a “segurança nacional”.
O TikTok, teve um crescimento gigantesco no último ano, ultrapassando o Instagram em número de downloads e chegando ao posto de terceiro app mais baixado do mundo em 2019, atrás apenas de WhatsApp e Messenger. A plataforma consiste na publicação de vídeos curtos e se tornou sucesso especialmente entre os jovens.
Essa, porém, não é a primeira vez que o aplicativo é acusado de limitar o alcance de publicações de pessoas fora do padrão que a plataforma considerada ideal. Em dezembro de 2019, o app que pertence à empresa chinesa ByteDance admitiu ter censurado conteúdos feitos por membros da comunidade LGBTQ+, pessoas gordas ou com algum tipo de deficiência.
Ainda de acordo com um porta-voz da empresa na ocasião, a escolha por diminuir o alcance desses conteúdos se deu porque essas pessoas seriam “propícias” a sofrer ataques de cyberbullying e assédio, e que a medida já não estava mais sendo aplicada.
De fato, a reportagem do Intercep aponta que tais diretrizes antiéticas e preconceituosas de moderação foram utilizadas até meados do segundo semestre de 2019. Porém, além de apresentar novas denúncias, como a moderação de lugares considerados pobres, os documentos apontam que o real motivo para esse controle é outro – apresentar conteúdos considerados atraentes para conquistar novos usuários e aumentar o crescimento do app: “… se a aparência do personagem ou do ambiente não é boa, o vídeo será muito menos atrativo, não merecendo ser recomendado a novos usuários”, diz o documento.
Um segundo documento apresentado pelo Intercept mostra, ainda, as regras de censura do TikTok em relação às transmissões ao vivo, e cujas proibições estão focadas nos discursos políticos classificados como “perigosos ou difamatórios” voltados “contra funcionários públicos, políticos ou líderes religiosos” ou contra familiares desses líderes. No caso dessas regras, a empresa não respondeu se elas ainda estão em vigou ou não.
A denúncia do Intercept vem pouco antes do TikTok inaugurar a sua nova “central de transparência”, anunciada na semana passada e que vai oferecer acesso a especialistas de fora da empresa sobre suas práticas de moderação de conteúdo. Esperada para maio, essa central surge como resposta a tais acusações de censura e preconceito á plataforma, além da investigação do governo dos Estados Unidos pela qual passa o TikTok, que argumenta que o app precisa seguir as leis locais quanto à moderação.
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