O auge do smartphone já passou… e agora?
Inovações puramente técnicas e divórcio entre modelos de luxo e de preços acessíveis botam em evidência momento de estagnação do mercado de celulares
Nesta última terça-feira, 11 de fevereiro, a Samsung anunciou sua nova geração smartphones: a linha Galaxy S20. Os aparelhos chegarão ao mercado estadunidense com preços altos, variando entre US$ 999,00 e US$ 1.300,00, e em teoria oferecendo novos aprimoramentos tecnológicos: todos os modelos podem filmar em 8K e contam com câmeras capazes de dar zoom em até cem vezes.
A novidade, porém, não repercutiu tanto quanto um lançamento do tipo repercutiria há quatro ou cinco anos. Cada vez mais os consumidores se distanciam de vez dos novos modelos de ponta para procurar smartphones mais baratos, um movimento que levanta uma discussão importante: como saber se estamos mesmo no auge dos aparelhos celulares? Teria esse auge já passado?
Isso acontece porque os aparelhos lançados ano após ano pelas grandes marcas – como a Apple, a Samsung, o Google, a Motorola e tantos outros – vem se diferenciando cada vez menos de seus antecessores. Os preços, em contrapartida, seguem subindo, e muitas companhias mantém o valor dos modelos com o exato preço de lançamento mesmo depois de meses e até anos de sua chegada ao mercado.
O consumidor também percebeu que as grandes inovações como as vistas na época dos lançamentos dos primeiros iPhone pararam de acontecer. Boa parte das câmeras de celulares chegaram a uma qualidade suficientemente agradável para a maioria dos usuários, bem como a fluidez da navegação, qualidade da tela e duração da bateria. Se há cinco anos era natural comprar os novos lançamentos – algo acessível não apenas por questões econômicas mundiais, mas pelo próprio preço oferecido pelas empresas – o que vemos hoje é um mercado de venda de usados cada vez mais fortalecido, bem como a busca por aparelhos mais simples e focados na praticidade.
Essa mudança em parte também é resultado da invasão dos aparelhos chineses no mundo ocidental. Tanto a Xiaomi quanto a Huawei, por exemplo, se tornaram peças importantes desse mercado por oferecerem um preço mais acessível em troca de modelos com acabamento mais simples e muitas vezes revestidos por plástico. A saída encontrada por algumas empresas para enfrentar esta nova concorrência foi desenvolver modelos “meio-termo”: a Apple e a Samsung lançaram linhas SE, enquanto o Google, ainda na sua quarta geração de celulares, lançou o Google Pixel 3a, uma versão simplificada do Google Pixel 3 e que oferece um revestimento e uma performance mais simples em troca de um valor bem abaixo do modelo principal.
Talvez seja por notar essa tendência dos aparelhos inovarem cada vez menos que empresas como a Samsung estejam investindo em características não tão úteis para os novos modelos. O maior exemplo disso são os celulares dobráveis, que se tornaram em chamariz para algumas marcas e que tiram seu apelo de uma nostalgia pelos flip phones do início do século. A questão é que, ignorando-se a carga nostálgica, há pouco que realmente atraia o consumidor em um aparelho dobrável. Alinhado ao fato da tecnologia não estar plenamente desenvolvida – a própria Samsung chegou a fazer recall de seu Galaxy Fold –, fica a impressão de que há um certo desespero por parte de algumas das gigantes da área em proporcionar novidades.
Mas então para onde vai o mercado de smartphones?
As duas saídas mais óbvias, na verdade, parecem ser eventos já em curso na indústria. A primeira é o investimento nas linhas “menores”: além dos citados Galaxy SE, iPhone SE e Google Pixel a, é possível que outras empresas também invistam no mercado de aparelhos um pouco abaixo dos topo de linha, o que atrairia o consumidor.
Mesmo que isso ocorra, porém, a maioria dessas empresas ainda deve continuar a investir pesado na criação de smartphones brutamontes. A própria Samsung, com o anúncio de sua linha S20, apresentou além do modelo tradicional o S20 Plus e o S20 Ultra – ou seja, em vez de seguir o que foi feito com a geração do S10, a fabricante sul-coreana agora lança modelos ainda mais caros.
Já o outro cenário possível é um pouco mais pessimista e dependente do mercado frenético e sempre em transformação dos aplicativos e de redes sociais. Com o tempo, os sistemas operacionais Android e iOS acabam inutilizando algumas funcionalidades ao deixar de oferecer atualizações para modelos antigos. Então, para obrigar o consumidor a comprar as novas versões, o que pode acontecer é as marcas encurtarem a duração de cada um desses aparelhos, fazendo com que não sejam mais capazes de receber atualizações um tanto mais cedo do que o possível.
E por mais que isso seja por enquanto apenas uma possibilidade, ele não é assim tão distante de nossa realidade. O WhatsApp, por exemplo, deixou de oferecer suporte para versões antigas de Android e iOS no começo do mês.
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