Same Shit Day by Day
Fui assistir hoje O Apanhador de Sonhos, um filme que já estava esperando ansiosamente desde o ano passado, por se tratar de mais uma adaptação de obra do mestre Stephen King.
Porém, só o que tive foi decepção. A primeira por saber logo na bilheteria que o curta O Vôo Final de Osíris da série Animatrix não seria exibido. Nem antes, nem depois, nem quando Deus quiser, já que a rede UCI simplesmente decidiu não passar, assim como a rede Cinemark.
Minha segunda decepção foi com o próprio filme, que mostrou ser uma bagunça sem limites. Não posso analisar muito a fundo, pois não li o livro de Stephen King, mas como obra cinematográfica, O Apanhador de Sonhos “apanha” feio (desculpe, não resisti ao trocadilho).
O início é muito promissor, e logo imaginei ser mais um daqueles filmes de Stephen King de tirar o fôlego. Mas estava enganado. No começo os personagens vão sendo apresentados de maneira bastante interessante, mostrando o poder de telepatia dado a 4 amigos e a relação entre eles.
Nos mostra Duddits, um garoto deficiente que parece ser mais do que aparenta, e penso outra vez: “Oba, mais um personagem digno de histórias de Stephen King, ai vem um filmão”.
Mas a partir do momento em que O Apanhador de Sonhos leva os 4 amigos para uma cabana no meio do nada onde neva sem parar, a coisa desanda. Começa uma mistureba de estilos, com monstrengos viscosos, alienígenas, militares que querem salvar o mundo, melecas que se espalham por todos os cantos e por aí vai.
Ao invés do roteiro explorar o poder dos rapazes e a relação deles com Duddits, criando um verdadeiro suspense psicológico, prefere abordar temas diferentes ao mesmo tempo, e o pior, sem absolutamente nada que convença o espectador.
O diretor Lawrence Kasdan parece ter preferido jogar um pouco de cada estilo em um grande caldeirão e misturar tudo para ver no que dava. E deu errado, é claro.
Eu esperava um filme sobre sonhos e pesadelos, alguma relação com o filtro dos sonhos que aparece no cartaz do filme ou algo que o valha. Porém, personagem algum chega sequer a dormir durante toda a projeção.
Só o que vi foi mais uma história sem nexo de alienígenas que querem dominar o mundo, tornando O Apanhador de Sonhos um filme constrangedor da sua metade até o final.
O recurso da neve que causa uma sensação quase “claustrofóbica” nos espectadores, já foi usada diversas vezes. O Enigma de Outro Mundo (The Thing) de John Carpenter é um ótimo exemplo disso. Diga-se de passagem, até as criaturas alienígenas de O Apanhador de Sonhos se assemelham muito com o filme de Carpenter.
Os efeitos especiais são bons e até a trilha sonora, usada diversas vezes como recurso para assustar a platéia, merece um elogio. O modo interessante como mostram a memória de um dos personagens também é um ponto a favor. Mas nada que ajude a salvar o filme da catástrofe.
Uma história em comum de vários garotos, flashbacks, uma cidadezinha isolada do Maine e mais uma série de características comuns dos contos de Stephen King estão em O Apanhador de Sonhos, mas nada consegue fazer uma ligação no mínimo convincente entre elas.
E mais, porque o psiquiatra quer se matar no começo do filme? Qual a relação dos personagens com a frase “same shit day by day” (SSDD)?
Sem dúvida, este é o pior filme baseado em livro de Stephen King que já vi. Até o “mais-ou-menos” A Tempestade do Século é melhor, e Fenda no Tempo ainda mais. Isso sem contar os clássicos.
Espero que ao menos o livro original seja melhor que o filme, o que pode não ser, levando-se em consideração que Stephen King cobrou da produtora apenas 1 centavo pelos direitos autorais de O Apanhador de Sonhos.
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