9 séries que marcaram a TV em 2019
Os lançamentos do streaming e da grade tradicional que monopolizaram o debate e as atenções nestes últimos 12 meses
// Seleção por Soraia Alves, Matheus Fiore e Pedro Strazza
Considerando a década que encerra, os anos 10 que consolidaram de vez a ascensão da chamada “era de ouro” da TV estadunidense e a programação de prestígio que invadiu as grades e catálogos dos canais e serviços on demand, era de se imaginar que 2019 fosse mais um ano explosivo para as séries. O cenário de intensa expansão no streaming ajudou muito a fomentar este frenesi, é óbvio – até porque só nestes últimos 6 meses o mundo viu nascer o Disney+ e o Apple TV+, dois fortes concorrentes que ameaçam real a supremacia da Netflix no meio.
Mas o ano não foi marcado apenas pelas agitações do mercado, obviamente. Entre outros tantos eventos, 2019 foi o ano que viu o fim de “Game of Thrones”, a série que querendo ou não – ou gostando ou não do desfecho – se firmou como o maior fenômeno televisivo da década. Foi também o ano de “Fleabag” e de Phoebe Waller Bridge, que dominou as atenções não apenas nos prêmios mas entre o público (até Barack Obama colocou a série em sua lista de destaques anuais), tornando-se um inesperado hit para o Amazon Prime Video; foi ainda o ano de “Stranger Things” se reafirmar como o maior sucesso de audiência da Netflix, que não hesitou em dar tratamento de blockbuster ao seriado de aventura dos irmãos Duffer.
E 2019, claro, também teve muitas estreias de sucesso. De janeiro a dezembro, o número de novas produções que tomaram de assalto as rodas de conversa foi alto e incluiu de programas nos moldes mais tradicionais até séries de gênero dispostas a levar ao limite da loucura suas convenções. A seguir, destacamos 9 destes lançamentos do streaming e da grade tradicional que monopolizaram o debate e as atenções nestes últimos 12 meses, incluindo séries que já estão disponíveis ao público brasileiro e outras que ainda permanecem inéditas no país – e mesmo assim ainda conseguiram achar o caminho até a audiência daqui.
Confira abaixo a lista na íntegra e não deixe de contar pra gente nos comentários o que mais te chamou a atenção na TV e no streaming este ano!
“Chernobyl”
Com o fim de “Game of Thrones”, uma pergunta inevitável surgiu: “E agora, HBO?”. A emissora, porém, não decepcionou ao estrear boas produções ao longo do ano, incluindo a surpreendente “Chernobyl”, tida por boa parte do público como a melhor série de 2019. De elenco muito bem escolhido à fotografias impecáveis, a forte produção surpreende pelos detalhes enquanto apresenta um pouco dos trâmites políticos da União Soviética ao lidar com o maior acidente nuclear do mundo até hoje, além das consequências enfrentadas pela população que, sempre, é quem mais sofre. Mesmo que mescle real e ficção, a série é respeitosa com toda a história de Chernobyl, e ainda levanta questionamentos bem atuais como a manipulação da verdade. Não à toa a trama levou diversos prêmios no ano, incluindo o Emmy de Melhor Minissérie. (S.A.)
“Euphoria”
Também da HBO, “Euphoria” chegou como mais uma série adolescente para somar ao já grande número de produções do estilo que ganharam força nos últimos anos, especialmente após sucessos como “13 Reasons Why”. E sim, é uma série sobre adolescentes, mas com um olhar bem mais abrangente, direto e real, que nos faz questionar desde a facilidade de acesso às drogas até o quanto a tecnologia mudou de vez as relações com aplicativos de namoro e nudes quase que obrigatórios. A atuação de Zendaya como a autodestrutiva Rue é destaque por si só, ao mesmo tempo que a escolha da atriz trans Hunter Schafer como Jules não poderia ser mais certeira. Se você acha a sua geração problemática, espere até ver o retrato da Geração Z que é dado pela série. (S.A.)
“Love, Death & Robots”
Produzida por David Fincher e Tim Miller, a série em animação de formato antológico foi lançada pela Netflix e deu o que falar em 2019. Cada episódio é uma história diferente com um universo e um tempo próprios e com metragens e equipes artísticas diferentes. Mesmo que a priori os episódios não possuam ligação, é clara a intenção dos criadores de fazer do formato uma forma de versar sobre a relação humana com tecnologia, modernidade, morte e relacionamentos, além de sobre como esses quatro tópicos se relacionam entre si e se transformam com o passar do tempo. Sem dúvidas, um dos projetos mais ambiciosos e certeiros do streaming em 2019. (M.F.)
“The Mandalorian”
O primeiro grande investimento do Disney+ chegou conquistando o público ao redor de todo o globo – mesmo que oficialmente só tenha sido lançado nos Estados Unidos e alguns outros poucos países. A série acompanha um caçador de recompensas que se envolve em um grande problema após recusar-se a finalizar um trabalho. Com isso, o mandaloriano do título acaba tendo que cruzar a galáxia ao lado de um carismático ser apelidado na série de “A Criança” – mas que a internet não tardou de batizar como Baby Yoda. O sucesso do ser é tanto que, mesmo que a temporada sequer tenha terminado, o boneco Funko de Baby Yoda já é o brinquedo mais vendido da Amazon – e detalhe, ele só começará a ser comercializado em abril, quebrando no processo o recorde apenas na sua pré-venda. (M.F.)
“Modern Love”
Com um clássico formato de episódios com personagens e histórias distintas que se conectam pela temática dos relacionamentos vividos na frenética Nova York, “Modern Love” pode ter passado batido para muita gente. Mas a série é uma grata surpresa da Amazon Prime Video e chama a atenção pelas atuações marcantes – especialmente a de Anne Hathaway como a bipolar Lexi no terceiro episódio. Tanto o roteiro quanto a direção de
John Carney conseguem manter a característica de conto, uma vez que a série é baseada em uma coluna semanal publicada no The New York Times. Delicadeza e humor mostram como as tentativas de começar ou manter relacionamentos podem ser frustradas, complicadas e exaustivas, mas com sorte (ou ânimo para não desistir) também podem ser surpreendentes e positivas. (S.A.)
“The Morning Show”
Várias coisas fazem de “The Morning Show” um dos destaques em séries de 2019: além de marcar o lançamento da Apple TV+, a produção traz Jennifer Aniston e Steve Carell de volta ao formato séries depois de seus sucessos em “Friends” e “The Office”, respectivamente. Mas é a trama da série que merece mesmo elogios, especialmente por abordar a questão do assédio sexual no ambiente de trabalho mostrando diferentes perspectivas sobre o assunto, desde a cultura do silêncio que impera em muitas empresas, até as consequências enfrentadas por cada um dos envolvidos. É difícil não se abalar ao ver a representação de uma cultura patriarcal que transforma mulheres em competidoras entre si, enquanto homens continuam a dizer que “agora o mundo está chato demais, tudo é assédio”. Das estreias de 2019, “The Morning Show” é certamente das mais necessárias. (S.A.)
“Olhos que Condenam”
Necessária também é um bom adjetivo para “Olhos que Condenam”, série da Netflix que retrata a história dos 5 adolescentes negros do Harlem que foram injustamente presos e condenados pelo estupro de uma mulher no Central Park, em 1989, mesmo com ausência de indícios e provas. Ver a série traz um misto de indignação, raiva e incredulidade em relação à justiça, mas escancara principalmente o quanto racismo é o grande motivador da condenação injusta e da negligência de uma absolvição que acontece só 13 anos depois. Escrita e dirigida por Ava DuVernay (“Selma”), a trama nos embrulha o estômago a cada diálogo dos jovens que, muitas vezes, simplesmente não compreendem o que está acontecendo e porquê o tratamento tão injusto baseado apenas na cor de suas peles. (S.A.)
“Russian Doll”
Das inúmeras séries que a Netflix lançou este ano talvez aquela que mais tenha pego de surpresa o público foi “Russian Doll”, que saiu logo no início de fevereiro e com poucos episódios monopolizou as atenções do primeiro trimestre a ponto das pessoas tornarem uma canção esquecida de Harry Nilsson em um hit só porque ela repetida à exaustão na primeira temporada. O sucesso não veio à toa: verdadeira subversão do formato “Feitiço do Tempo” de histórias de protagonista preso no mesmo ciclo diário, o seriado criado por Natasha Lyonne, Leslye Headland e Amy Poehler não hesita em trafegar por temas difíceis como depressão e autodestruição dentro de uma narrativa que gosta de manter o espectador deslocado sobre o que de fato está acontecendo à protagonista e aqueles ao seu redor. E não bastasse tudo isso, a série ainda conta com um trabalho de atuação pra lá de inspirado de Lyonne, que sabe como equilibrar toda a complexidade de sua personagem a partir do sarcasmo e ceticismo que norteiam sua vida. (P.S.)
“Watchmen”
Roteirizada por Damon Lindelof (um dos grandes names por trás do sucesso de “Lost” e “The Leftovers”), a série “Watchmen” acompanha o mesmo mundo criado nos quadrinhos de mesmo nome de Alan Moore e Dave Gibbons, mas nos tempos atuais. Sai a Nova York do auge da Guerra Fria, entra a Tulsa dos conflitos raciais gerados por milícias de grupos supremacistas brancos inspirados pelos atos de Rorscharch. A partir deste cenário, o programa consegue introduzir novos personagens interessantes, de forma que as novas histórias conseguem tornar narrativamente verossímeis as novidades trazidas pela HBO ao universo. Em certo momento, a primeira temporada de “Watchmen” parece se enrolar com uma desnecessária complexidade gerada pela montagem, o que faz com que, nesses momentos, a série dependa demais do cânone dos quadrinhos para funcionar. Ao fim, porém, Lindelof consegue fechar com precisão os arcos apresentados e fazer da série uma das mais promissoras da atualidade – ainda que tanto o showrunner quanto a emissora ainda insistam que o programa deve se bastar numa minissérie. (M.F.)
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