Festival Path domina a paulista com inovação, criatividade e diversidade
Evento este ano mudou de endereço, mas trouxe a mesma potência de provocações em suas conversas e painéis
Maior festival de inovação, criatividade e diversidade do Brasil, o Festival Path aconteceu no último fim de semana (1 e 2 de junho) em São Paulo. A grande novidade da sétima edição foi a mudança de ares do festival, depois de anos sendo realizado na região de Pinheiros e Vila Madalena, o festival aconteceu desta vez na região da avenida Paulista.
O evento contou com shows de artistas estabelecidos do circuito brasileiro como Jaloo e BNegão e nomes em ascensão como o Tuyo. Além dos artistas, figuras do mundo do empreendedorismo, da comunicação e da ciência deram as caras no festival.
O crescimento do trabalho remoto e times distribuídos
20% da força de trabalho no Brasil atua de forma remota, mas por outro lado 77% das empresas não permitem essa forma de trabalho. O trabalho remoto segue em crescimento com a disponibilidade de novas tecnologias e as empresas precisam encarar essa realidade se quiserem reter seus talentos. “Um funcionário que trabalha remotamente ganha uma disponibilidade de horas que ele gastaria no trânsito” ressaltou Clara Caldeira, diretora de conteúdo do site Hypeness.
A diversidade também é um fator importante a ser considerado uma vez que o trabalho remoto reduz a limitação geográfica. “Uma das vantagens do trabalho remoto é poder ampliar a diversidade do meu time”, comentou Gustavo Franceschini, editor-chefe do site esportivo Goal.com. Gustavo trabalha baseado em São Paulo, e conta na sua equipe com uma editora de vídeos que mora no Piauí.
Mas apesar da autonomia e da liberdade trazidas pelo trabalho remoto, ter uma rotina é importante. “A gente tem rituais: reuniões na segunda-feira para todo mundo dividir o mesmo assunto e emular encontros de troca” comentou Camila Weber, gerente de comunicação da WeWork.
O consumo e os negócios em um mundo em esgotamento
Segundo o instituto de pesquisa Ipsos, a preservação do meio-ambiente é uma questão cada vez mais presente na vida do brasileiro. Desmatamento, quantidade de lixo e poluição da água são as principais preocupações do brasileiro. Diante deste cenário, a Ambev desenvolveu o SAVEH (Sistema de Autoavaliação de Eficiência Hídrica) uma plataforma onde empresas podem se juntar para discutir e colocar em ação boas práticas para a preservação da água. A preservação dos recursos hídricos é de interesse da Ambev, uma vez que a água é uma matéria-prima de extrema importância para a empresa.
No entanto, é preciso que haja um esforço coordenado entre sociedade civil, empresas e governo para que possamos de fato preservar o meio-ambiente. “Não tem solução que só depende da indústria, não tem solução que depende só do consumidor” disse Richard Lee, gerente de sustentabilidade da Ambev. “Não existe sustentabilidade pela metade, só no privado e o público destruído” completou Fernando Penedo da Baobá Sustentáveis.
Existe um enorme desafio em transformar a preocupação do público em ações concretas e coordená-las com as ações de governos e empresas: “Pedir para um povo que nunca foi cuidado cuidar de outra coisa parece descomunal” disse Amélia Malheiros, gestora da Fundação Hering e responsável pelo desenvolvimento do projeto Trama Afetiva, que tem o propósito de dar um novo destino a resíduos da indústria têxtil.
A reinvenção do jornalismo
A cobertura do jornalismo de celebridades pode não ser do interesse de todos, mas ela oferece um ótimo retrato da transformação que o jornalismo passa e das lições que devem ser aprendidas pela área. Com a chegada do Instagram, a imagem das celebridades se tornou de fácil acesso e os paparazzi precisaram buscar outro trabalho. Mas os portais que cobrem os famosos perderam a oportunidade de apurar o que acontece além das fotos filtradas do Instagram: “Repostar conteúdo de celebridades não é jornalismo. É Relações Públicas”, disse o repórter da revista Veja João Batista Jr.
O surgimento de novas mídias trouxe um desafio novo para as redações. “1 veículo ou 1000?” foi a provocação que Batista e Daniel Bergamasco, editor-chefe da Veja, trouxeram. O surgimento de novas mídias e novas formas de produção de conteúdo faz com que as redações tenham que se desdobrar para produzir conteúdos para várias plataformas simultaneamente. E além disso, as mentiras disseminadas na internet, também conhecidas como fake news trouxeram um esforço adicional de apuração, fazendo com que as redações praticamente criassem uma editoria a parte voltada para esse tipo de conteúdo.
“A resposta do novo jornalismo não está na tecnologia” disse Bergamasco, ao apontar a direção para o futuro da área. Para ele, o futuro está em reportagens de maior abrangência e maior apuração. Em outras palavras, o futuro do jornalismo é “mais presencial, mais pessoal e mais humano”, ainda que necessite conciliar isso com um modelo de negócio que entrará em conflito com essa visão.
Possuímos uma relação complicada com a tecnologia
“Estamos vivendo um momento quase religioso com relação à tecnologia. Estamos convertendo as metáforas e narrativas religiosas em pensamento científico” afirmou a pesquisadora Lídia Zuin em entrevista para o UOL Tab. Apesar das promessas de salvação, persistem problemas de desigualdade além de surgirem novos efeitos colaterais. “A tecnologia se torna um teatro, se torna entretenimento”, disse o futurista Michell Zappa.
Ao mesmo tempo em que para alguns a tecnologia representa um caminho para a salvação, para outros é o natural que desperta uma atração do tipo enquanto sentem aversão à tecnologia. “Existe um conforto, talvez religioso em pensar que uma banana é natural” afirmou Otto Herringer, empreendedor da área de biotecnologia. O CRSPR, ferramenta de edição genética, trouxe um debate muito forte sobre os impactos éticos da tecnologia, mas para Otto é importante que tenhamos em mente antes que sempre fizemos edição genética de uma forma menos eficiente. Como na hora de escolher um milho maior ou criar uma raça de cachorro com características que nos agradam. “Pouquíssimas coisas podem ser divididas entre natural e artificial” concluiu a pesquisadora Erika Molina.
Com um novo local, mas o mesmo olhar para a tecnologia, a inovação e a diversidade, o Path se consolida como maior evento do tipo no Brasil.
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