Lollapalooza 2019: desorganização, perrengues e as marcas que conseguiram se destacar no festival
Entre acusações de trabalho não formalizado e caos no segundo dia de evento, Lolla finaliza a oitava edição precisando rever sua organização
Muita coisa precisa ser dita sobre o Lollapalooza Brasil 2019, começando pela organização do próprio festival, que é uma marca em si. No ano passado, uma reportagem do The Intercept Brasil denunciou que o festival havia contratado moradores de rua para trabalhar na montagem das estruturas do evento, sem qualquer tipo de formalização e recebendo entre R$ 40,00 e R$ 50,00 por uma jornada de 10 a 12 horas de trabalho. A mesma denúncia persiste neste ano, segundo a Folha de SP, que conversou com moradores de rua que garantem ter trabalhado na montagem das estruturas ganhando os mesmos R$ 50,00 por dia.
Até o momento, a organização do Lolla não comentou as denúncias desse ano, mas em 2018, a T4F, organizadora do festival no Brasil, informou que não reconhece as acusações, pois contrata “empresas especializadas para prestação de serviços diversos para o festival, e sempre prezou pela segurança dos seus funcionários e prestadores de serviços, seja mediante o uso de equipamentos de proteção ou outros”.
Mesmo sem essas graves denúncias, não custou muito perceber já na chegada ao evento que organização e respeito com os trabalhadores não é o forte do festival. A maioria dos funcionários no local carecia de informações sobre os serviços oferecidos no evento, como o carregamento de pulseiras de consumo, por exemplo. Fica evidente que se esses trabalhadores passam por algum tipo de treinamento, ele não é efetivo. E nem poderia ser, já que estamos falando de pessoas recrutadas há menos de 15 dias do festival.
A lógica, então, é simples: o trabalhador – que precisa do dinheiro – aceita a função, não recebe instruções suficientes sobre ela e, inevitavelmente, isso afeta a experiência do público final. A culpa, definitivamente, não é do trabalhador, mas nem todo mundo entende isso. A situação piora em situações extraordinárias, como foi o segundo dia do evento, quase cancelado devido à chuva.
Da lama ao caos
Em 2017, o Lollapalooza Chicago passou por uma situação semelhante ao que aconteceu ao Lolla Brasil no sábado, 06/04: uma tempestade começou quando as atrações principais do primeiro dia tinham tocado apenas três músicas. A organização pediu a saída imediata das 100 mil pessoas do lugar através de alertas em todos os telões, enquanto nas redes sociais, a mesma organização postava que os shows estavam cancelados devido ao temporal e orientava a todos para irem embora e procurarem abrigos.
Em São Paulo, porém, não foi bem assim. Pouco depois das 14h, a organização interrompeu os shows que aconteciam, como o do Rashid no palco principal, alegando o mal tempo, mas uma volta em breve. Vários minutos depois, o aviso era para o público sair de perto dos palcos e de estruturas metálicas… mais algum tempo depois, o aviso – sempre feito através dos microfones nos palcos – era para o público se aproximar das saídas de emergências, pois uma “possível evacuação poderia acontecer”.
Começou, então, uma chuva de desinformação e perrengues tanto para quem já estava dentro do Autódromo de Interlagos, quanto para quem tentava entrar. Afinal, o festival estava sendo evacuado ou não? O dia foi cancelado? Onde são as saídas de emergência? Onde se abrigar fora dos portões de Interlagos? Se alguém sair, poderá voltar se o festival não for reamente cancelado?…
Vale ressaltar que a organização agiu bem em relação à precaução de acidentes no caso de cair uma tempestade. Mas a boa intenção foi mal executada, gerando um caos que também não foi bem gerenciado. Nem nas redes sociais do festival era possível encontrar uma informação oficial sobre o cancelamento ou não do evento, apenas mensagens sobre portões e transfers “temporariamente suspensos”.
No fim, choveu bastante, parou a chuva e, depois de muita espera, o festival com retomou os shows do horário em que estava. Ou seja, alguns artistas anteriores não se apresentaram, outros fizeram pocket shows, enquanto quase todo mundo que foi barrado na parte de fora, começava a entrar sem entender metade da situação.
E já que estamos falando em gerenciamento de crise, pegou muito mal a “postagem resumo” do segundo dia do festival no Instagram, que não mencionou nada sobre os problemas enfrentados e só despertou a revolta do público nos comentários.
O lado bom…
Apesar dos pesares, o Lollapalooza Brasil também proporcionou bons momentos ao público, principalmente no primeiro e último dias. Entre shows muito esperados, como o do Arctic Monkeys, e alguns até mesmo surpreendentes, caso da banda britânica Bring me the Horizon, as ativações de marcas patrocinadoras e apoiadoras do festival é que entretiveram o público e levaram várias pessoas a enfrentar filas só para conseguir seus brindes.
Entre as marcas que se destacaram estão aquelas que pensaram em “brindes úteis” para o público, caso da Budweiser, cerveja oficial do Lolla pelo segundo ano consecutivo e que além de criar um espaço de pubs com shows e passatempos em sua ativação, espalhou brindes nos copos de cerveja, como ingressos para o dia seguinte, cerveja grátis, entre outros. Para descobrir se o seu copo estava premiado ou não, era preciso interagir com os funcionários da marca, que jogavam uma espécie de luz negra no copo. Ou seja, todo mundo interagiu muito com a Bud durante todo o festival.
A cerveja também se propôs a fazer um evento com shows de Rashid e Silva, que não conseguiram se apresentar no dia da “evacuação”. Quem tiver a pulseira do festival (sábado) terá entrada grátis (mais informações ainda serão divulgadas).
A Johnnie Walker caprichou em sua estreia no festival, oferecendo diversos brindes como tatuagens (incluindo algumas com o lineup do dia, o que é útil), pôsteres, copos diferentes e um espaço bem interativo que chamou a atenção do público que pode, pela primeira vez, comprar drinks como opção além da cerveja ou da Skol Beats. Até 2018, os drinks eram exclusividade do Lolla Lounge (área VIP).
A Adidas foi outra marca que estreou no Lollapalooza sem economias, principalmente de espaço, já que seus stands eram os maiores e traziam diferentes opções interativas para o público, das mais simples as mais techs.
A Coca-Cola foi outra marca que apostou em um espaço totalmente interativo para o público, e todas as suas ações ali dentro poderiam ser compartilhadas nas redes sociais depois.
Mas a melhor coisa foi a distribuição de mini garrafas de Coca-Cola sem açúcar pra galera. Já os copos de refrigerante poderiam ter sido pensados para serem reutilizados como o das outras marcas.
A Fini criou um espaço visualmente atrativo com seus doces mais famosos em tamanhos grandes os suficientes para virarem brinquedos de adultos. Todas as brincadeiras podiam resultar em brindes, entre eles meias. Mais útil impossível!
Por fim, a melhor ação deste Lollapalooza 2018 foi, sem dúvida, a do Bradesco, que distribuiu água grátis pra galera (o copo de água de 350 ml no festival custava R$ 6,00).
A distribuição de água grátis é prática recorrente em festivais gringos, principalmente na Europa. Mas no Brasil, infelizmente, a ação é vista como novidade, então que bom uma marca tomou essa iniciativa.
Se pegar o squeeze era o mais demorado por conta da fila, depois disso, todos conseguiam reabastecer o squeeze sem problemas.
Como um todo, as experiências oferecidas pelo Lollapalooza Brasil são sempre inesquecíveis em suas edições, desde a escolha do lineup até as marcas que estão junto na empreitada do festival. Dessa vez, a falta de organização custou caro para o festival – o bem-estar do público – e os bastidores nebulosos também tornam tudo ainda mais complicado para a marca, afinal, um bom festival não se resume em murais para fotos de Instagram e 1/3 do público formado por influencers.
[Crédito foto capa: Fabio Tito/G1]
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