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SXSW 2019: Fazer negócio com startup não é mais inovador
É na verdade o mínimo que os executivos de grandes empresas deveriam estar fazendo
Lembra quando falar inglês era visto como um diferencial competitivo e depois passou a ser o básico que um profissional deveria saber para conseguir um bom cargo? Então, é mais ou menos assim que a relação entre startups e grandes empresas está hoje. Chegamos na fase em que fechar negócios com empreendedores não é mais algo considerado inovador e sim o mínimo que qualquer executivo deveria fazer para garantir a reinvenção de suas corporações. Agora a batata quente no colo dos engravatados é outra: como identificar (e conduzir) uma parceria que faça sentido para as duas pontas?
Se tem uma coisa que o SXSW deixou claro este ano é que a resposta não está apenas na tecnologia, mas sim nas pessoas. Para as coisas acontecerem, não adianta nada apostar na criação de um lab ou de uma aceleradora descolada (apesar da palestra que prometia ensinar o passo a passo para isso ter lotado). Antes de tudo, é preciso dar uma chacoalhada na cultura interna, incentivar todo mundo a colocar a mão na massa e, ainda mais importante, deixar claro para todos o que estão fazendo e porque estão fazendo.
Amy Burr, diretora da JetBlue Technology Ventures, braço de inovação da companhia aérea americana que tem 18 startups investidas em seu portfólio, contou em um painel sobre corporate venture que um dos objetivos de sua iniciativa, além de apostar e colocar dinheiro em startups que tenham potencial para transformar a aviação, é preparar os colaboradores para o que está por vir. Afinal, de que vai adiantar fechar negócios com startups se os próprios colaboradores não souberem como lidar com o novo produto/serviço e as mudanças que podem acontecer dali em diante?
Isso significa, por exemplo, trabalhar a resistência que muitos executivos de empresas tradicionais ainda têm com as áreas que chegam para dar aquele chacoalhão. Quem atua com inovação interna já deve estar acostumado a ser visto como os ‘loucos das ideias’ pelas outras áreas, e isso normalmente vira uma trava na hora de tirar os projetos do papel. É preciso deixar mais claro que o time de inovação, seja interna ou externa, está ali para ajudar, e não competir ou ‘inventar moda’.
A seguir, um compilado do que foi falado nesses sete dias de SXSW quando o assunto é a união entre dinossauros e unicórnios:
Equilíbrio
A relação entre startup e grande empresa deve ser baseada em equilíbrio. É sobre entender que ainda existem burocracias e uma certa lentidão do lado das corporações tradicionais, e também compreender que os empreendedores na maioria das vezes têm uma noção de tempo diferente (no mundo deles é tudo sempre mais acelerado, não tem jeito). Ou, ainda como falou Charlie Larkin, diretor de inovação da GameStop: “As empresas não podem ver as startups como meros fornecedores que têm um contrato assinado. A relação entre as duas partes é mais do que isso. É parceria, e vez ou outra vai precisar de mentoria e um relacionamento mais descontraído”.
Nada deve ser escrito em pedra
Estamos em um momento em que, como bem disse em sua palestra Brigitte Berman (a pessoa mais nova a participar de uma missão da NASA), falamos e lemos sobre viagens espaciais como quem vai tomar um café no meio da tarde. Virou normal. Se visitar outro planeta pode ser possível, por que aquela integração técnica, um novo serviço ou mesmo aquela cláusula no contrato não podem ser repensadas? A relação startup e grande empresa é sobre pular fora da caixinha, e não fechar mais portas – e isso vale para os dois lados.
Na mesma página
Tanto startup como a grande empresa devem estar de olho no mesmo resultado e certos de que a outra parte tem condições de entregar. É mais ou menos o que Larkin também falou: “Trabalhar com startups pode ser certeiro, mas também decepcionante. É preciso ter certeza de que o modelo de negócios que vamos criar juntos vai ser sustentável para o futuro. Do contrário, pode acabar gerando mais custos e complexidade para as duas operações, o que vai frustrar muita gente”.
Menos branding, mais resultados
É o que Gregory C Brown, diretor da UPS, o principal serviço de entregas dos Estados Unidos, falou em um painel sobre robótica na logística. Ele tem parcerias com startups de robôs e faz questão de deixar claro internamente que as máquinas estão lá para tornar o serviço mais eficiente, e não arranjar trabalho, problemas ou apenas passar a impressão de que a empresa é moderna e inovadora. “Precisamos ser realistas de que se uma tecnologia ou inovação não gerar retorno para o negócio, não faz sentido perder tempo com elas nem por marketing”.
Largue mão do orgulho
JC Curleigh, ex-presidente da Levi’s e atual CEO da marca de guitarras Gibson, foi certeiro: para as empresas centenárias que estão ficando para trás, se reinventar é quase como começar do zero. É preciso atrair novos usuários, ganhar escala, tomar decisões com mais agilidade. Se os “dinossauros” não deixarem o orgulho para trás e surfarem na onda das startups, vai ficar complicado. E o mesmo vale para os “unicórnios wannabe”: um pouco do pé no chão de quem tem a cabeça corporativa mais tradicional só vai trazer benefícios.
De uma forma ou de outra, essa edição do SXSW deixou claro que, apesar das inovações e tecnologias apresentadas, não tem jeito: o futuro, mesmo para as indústrias mais avançadas, (ainda) é baseado em carne, osso e sentimentos.
> Confira a cobertura completa do B9 no SXSW 2019
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