Sony introduz o épico na Comic Con Experience 2018
Aparições surpresa de Jake Gyllenhaal, Tom Holland e Jacob Batalon para divulgar o novo “Homem-Aranha” foram o grande clímax de um painel disposto a absolutamente tudo para levar o público ao delírio
No ano passado, a Sony Pictures causou um gigantesco rebuliço – e, por consequência, triunfou – na Comic Con Experience ao fazer um painel no auditório Cinemark que desafiava todas as convenções que haviam sido estabelecidas silenciosamente pelos estúdios ao longo dos anos. De estrelas muito amadas pelo público a convidados e filmes surpresa introduzidos diretamente no palco, passando por todo o caos de um final gerado por um erro de cálculo, a apresentação do estúdio levou o público presente à loucura ao introduzir pela primeira vez no evento o tal do elemento surpresa que tantos desejavam que a CCXP tivesse. Até ali, a ideia de algo que pudesse superar toda a força daquele painel era impensável.
Isto, pelo menos, era o que todos pensavam em 2017. Em 2018, a Sony resolveu dobrar a aposta e partir para as cabeças no espaço, uma proposta que já havia sido anunciada de forma silenciosa na total ausência de anúncios de convidados para sua nova incursão pelo auditório. O ato ousado rendeu frutos: mesmo sem ninguém para chamar a atenção para a apresentação, a esmagadora maioria dos presentes permaneceu sentada em seus lugares ao fim dos painéis da Disney, à espera do que quer diabos o estúdio tinha planejado a eles.
E sua espera foi recompensada.
MIB, uma organização internacional
O painel já começou quente quando o apresentador introduziu um “vídeo anti-pirataria” em que Tessa Thompson e Chris Hemsworth, vestidos de terno, apareciam para pedir de forma divertida que os presentes não filmassem qualquer material apresentado no evento. Se a plateia já achava estar em êxtase, ela descobriu novos níveis de entusiasmo ao ver a atriz ser anunciada no palco do auditório, um ato que por si só levou a Sony a ter controle total da agitação da torcida no espaço.
Como o vídeo, Thompson estava ali para divulgar “MIB Internacional”, a continuação da franquia em forma de soft reboot que coloca a organização de controle e combate a ameaças alienígenas sobre a Terra em um campo global. “Eu era jovem quando o primeiro filme saiu, então ele me marcou muito” disse a atriz, que falou rapidamente sobre como o projeto dirigido por F. Gary Gray apresentava novos personagens e vilões e a forma como sua personagem, a agente M, era incrível: “Ela é bastante badass, ela é inteligente, geek e não revela isso” afirmou Thompson antes de confirmar a exibição do primeiro trailer da produção na telona do auditório.
A prévia é relativamente rápida, mas bastante efetiva para apresentar a trama e todo o clima de ação misturado com elementos de sci-fi que a direção de Gray deve oferecer. Depois de mostrar várias localidades espalhadas ao redor do mundo e estabelecer o caráter global da entidade, o trailer indica que a história deve seguir uma premissa paranoica onde a agência suspeita de um espião em suas dependências na região da Inglaterra e convoca a personagem de Tessa Thompson para ajudá-la a encontrar a fruta podre. Hemsworth surge em mais um de seus personagens cômicos com timbre de herói, servindo como a mesma figura de mentor à Thompson que Tommy Lee Jones nutria a Will Smith nos originais – e embora Liam Neeson assuma a posição de chefe da nova sede, a líder de Emma Thompson marca presença. É um vídeo com muita ação e armas grandes (umas que a M de Thompson até preferem, como ela brinca em determinada altura), num estilo que a princípio preserva o humor da franquia mas a insere num campo mais próximo da ação.
Os intermediários surpreendem
A Sony caminhava a passos rápidos na apresentação. Findado a seção dedicada aos “Homens de Preto”, a Sony brindou o público com o lançamento oficial do trailer de “Brightburn”, terror de super-heróis que conta com o nome de James Gunn na produção. O vídeo, que foi lançado logo depois nas redes sociais, é bastante claro na ideia de distorcer uma típica história de origem de super-heróis em direção ao maligno – e sobra um jump scare bonitinho no final da prévia.
Logo em seguida, foi a vez de “Escape Room” tomar as atenções do auditório. Em poucos minutos, o diretor do longa de horror baseado nas brincadeiras em forma de quebra-cabeças para adultos, Adam Robitel, estava no palco para falar um pouco mais da produção, ao qual ele definiu como “um thriller em forma de montanha-russa”. “Este filme é sobre quebra-cabeças, mas também sobre trauma. Há várias reviravoltas” esclareceu o cineasta, que também citou o “Vidas em Jogo” de David Fincher como uma de suas maiores influências para o projeto – “O Segredo da Cabana” e a franquia “Jogos Mortais” também foram citados.
Além do trailer (que você pode conferir abaixo), também foram exibidos cinco minutos do filme que resumiram bem ao público parte da proposta do filme, que se comporta no fundo como um “Cubo” com salas um pouco mais arrumadas. Na sequência, um dos personagens se encontra preso dentro de uma sala que aos poucos começa a ver suas paredes fechando o espaço para esmagar o participante, que precisa resolver o quebra-cabeça para salvar sua vida à partir das pistas dispostas no recinto em plena destruição. A cena dá certa aflição e é bastante divertida, ainda que a maneira como o mistério da sala vá sendo resolvido fique meio deslocada em termos de narrativa.
Encerrado “Escape Room”, era a vez de “Homem-Aranha no Aranhaverso” fazer seu retorno ao auditório Cinemark, mais de um ano depois de começar sua jornada de divulgação no espaço. Enquanto o painel de “Alita” na Fox soou como requentado, a Sony fez questão de garantir o poder de fogo de seu projeto “em graduação” à partir da exibição da maior quantidade de conteúdo possível: além de uma cena estendida de uma cena onde todos os Homem-Aranhas se encontram na produção, o estúdio exibiu um clipe onde os produtores Phil Lord e Chris Miller anunciavam que o público assistiria inacreditáveis trinta minutos iniciais do filme, uma notícia que fez o público ir ao delírio mais uma vez.
A plateia do auditório Cinemark, porém, não estava preparada para o que ainda estava por vir.
O poder da aranha
Depois de terminar todo o conteúdo de “Aranhaverso”, o evento fez uma provocação rápida e anunciou que o painel estava acabando. A audiência, claro, não demorou muito a protestar: depois de tantos rumores e evidências, o povo queria que “Homem-Aranha: Longe de Casa” ocupasse seu lugar de direito na apresentação e introduzisse o Tom Holland que fora avistado por alguns no dia anterior pelas redes sociais.
O segredo da Sony nesta hora foi (de novo) o de trabalhar o suspense. Primeiro, o ator Jacob Batalon que vive o melhor amigo de Peter Parker, Ned, na atual encarnação do personagem para o Marvel Studios entrou no palco desesperado, anunciando que havia trazido algo para mostrar aos presentes. O teatro prosseguiu com uma ligação quando ele percebeu que tinha esquecido o material, e foi aí que Holland surgiu de forma triunfal num dos cantos do palco e levou o auditório abaixo em urros, gritos e ovações. As pessoas presentes não acreditavam no que viam, algo que era traduzido numa sensação de êxtase inigualável; os atores não conseguiam sequer falar sobre o filme e eram interrompidos quase a todo instante por novas salvas de palmas e a histeria coletiva.
Demorou um tempo e algumas brincadeiras entre Holland e Batalon, mas enfim o material mais esperado do dia chegou: o trailer do novo “Homem-Aranha” seria exibido pela primeira vez e com exclusividade na CCXP. A situação era tão inacreditável e feita de última hora que a cópia exibida ao público do evento sequer tinha legendas, o que contribuiu para que seu conteúdo fosse festejado pelas imagens e não pelos diálogos, que ficaram bastante inaudíveis em alguns momentos tamanha a excitação geral.
A prévia em si é divertida e apresenta uma trama bastante leve considerando que o filme será o primeiro do Marvel Studios após o bombástico e cataclísmico “Vingadores: Ultimato”. A princípio mostrando que Happy Hogan e Tia May – bem tranquila em relação ao trabalho de vigilante do sobrinho – podem estar flertando (e bem na frente de Peter Parker), o trailer segue apresentando a premissa de uma viagem de escola à Europa onde o protagonista resolve tirar férias do seu trabalho como super-herói e deixar o uniforme para trás. O dever, entretanto, resolve perseguir Peter até Veneza, onde Nick Fury aparece em seu quarto de hotel para convocá-lo a uma missão onde ele deve deter uma onda de criaturas místicas baseadas nos elementos da natureza – e ainda que a prévia sugira esta ideia, o Homem-Areia e o Homem-Hídrico não são vilões na trama. Depois de algumas sequências esparsas envolvendo todo tipo de situação (incluindo uma aproximação romântica entre o protagonista e Mary Jane), o trailer se encerra com o Homem-Aranha planando e as primeiras imagens de Jake Gyllenhall como o vilão Mysterio, que controla as criaturas e tem um visual quase idêntico ao seu figurino clássico, incluindo aí o capacete enevoado e a capa roxa.
Exibido o tão aguardado o trailer, a Sony ainda tinha uma última surpresa que derrubou de vez o auditório. Em meio a brumas verdes, Jake Gyllenhaal surgiu no palco aclamado com o resto de voz da audiência para uma última seção do painel. Especulado desde o começo da feira entre jornalistas e organizadores como uma atração que infelizmente não iria se materializar, o ator pegou todos os presentes de surpresa; como o trailer, sua presença havia sido confirmada nos bastidores de última hora pelo estúdio e seus representantes. A explosão de alegria era tamanha no espaço que o público parecia perdido nos próprios atos de agitação, estourando em palmas a quase todo movimento feito pelos artistas.
Os convidados, enquanto isso, seguiram o script e mantiveram o espetáculo em movimento: Holland brincou com spoilers e sobre como o novo uniforme stealth o permitia ir ao banheiro com maior facilidade, Gyllenhaal puxou uma dancinha ao som de “September” do Earth, Wind and Fire quando para falar sobre as criaturas invocadas por seu personagem e Batalon no geral servia de escada aos outros dois atores para piadas e tiradas. O grupo parecia extremamente entrosado, algo que o intérprete do Homem-Aranha atribuiu como uma das grandes qualidades do diretor Jon Watts – “Ele fez o casting em busca desta química perfeita entre os atores”
disse Holland em determinado momento.
Mas ainda que o peso dos atores conquistados pela empresa tenha sido ato fundamental para implodir o auditório Cinemark e a Comic Con Experience, foi a fúria da narrativa criada pelo painel que no fim se tornou a grande arma da Sony para materializar uma apresentação tão sólida e memorável. A sensação de valorização crescente, as reviravoltas constantes e cada vez maiores e a agilidade entre os conteúdos fizeram as duas horas do evento realizado pela marca parecerem meia hora a um público fadado à exaustão, especialmente após passar uma madrugada inteira na fila para estar naquele momento e depois de já ter encarado uma boa quantidade de painéis. É um feito que até o momento nenhuma outra companhia conseguiu alcançar na CCXP.
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