RT Features vai à CCXP para divulgar figura de Rodrigo Teixeira
Produtor buscou impulsionar imagem e popularidade de seu estúdio e projetos na Comic Con, mas ausência de materiais mais sólidos quebrou apresentação
É inegável a afirmação de que a RT Features em pouco mais de uma década conseguiu se estabelecer no mercado internacional. No mercado desde 2005, a empresa fundada e gerida por Rodrigo Teixeira aos poucos conseguiu sair da posição de “estúdio independente brasileiro” para começar a produzir filmes de estatura e alcance global, especialmente à partir de 2016 e o sucesso de “A Bruxa”, terror de baixo orçamento dirigido por Robert Eggers que se tornou uma sensação tão grande no circuito de festivais a ponto de alcançar o mainstream.
Ao mesmo tempo que a marca se solidificou ao redor do globo, porém, a imagem da RT no Brasil ainda é vista com certo desinteresse pelo público. Mesmo que trabalhando com nomes da estatura de Martin Scorsese, realizando filmes tão populares como “Me Chame Pelo Seu Nome” e até se tornado membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o nome de Teixeira e de seu estúdio ainda são desconhecidos ao brasileiro comum, um problema que ajuda a dificultar uma melhor arrecadação nas bilheterias nacionais dos projetos lançados pela companhia, que incluem produções até bem quistas pela crítica e os festivais como “Mistress America”, “O Animal Cordial” e o próprio “Me Chame…”.
Foi este interesse em ampliar e impulsionar o alcance da figura de seu criador que levou a RT Features a realizar um painel no auditório Cinemark da Comic Con Experience deste ano. Com uma hora para vender Teixeira e os próximos filmes do estúdio, a apresentação realizada na quinta-feira dispôs de todo tipo de tema para envolver o público do espaço sobre a produção e os valores da empresa, uma estratégia que rendeu alguns momentos peculiares no meio do processo.
O painel foi feito acima de tudo no discurso, com o apresentador jogando questões que ajudassem Teixeira a ganhar a atenção de um público de início um tanto desinteressado (a HBO vinha logo em seguida), mas o arsenal disposto ao produtor para alcançar seus objetivos era imenso. “A gente conseguiu se provar com filmes diferentes” começou o executivo no evento, depois de afirmar que aquela era sua primeira participação em algum dos palcos da CCXP; o status do diferente, alinhado com o tema da diversidade, de tempos em tempos voltavam a aparecer nas suas falas, que incluíram uma vontade de reforçar o pedigree da “marca RT” pelos nomes alcançados pela empresa – tanto que em certo momento o produtor não hesitou na hora de dizer que “Me Chame Pelo Seu Nome” era um filme brasileiro ou que as mulheres com quem trabalha levam projetos muito mais interessantes a ele que os homens, ações que lhe renderam boas salvas de palmas no auditório.
Esta relação de Teixeira com Hollywood também foi bastante explorada na apresentação, especialmente quando para aproximá-lo do público e pintar o retrato “gente como a gente” – “Eu ainda suo e tropeço no inglês quando encontro o Scorsese” ele disse em determinado momento. Falas de seu deslumbre com as estrelas eram frequentes, especialmente quando Chris Columbus (um parceiro de longa data da RT, com a qual produziu quatro projetos que incluem “A Bruxa”) se juntou aos presentes no palco para dar maior gás ao painel – mesmo que fosse apenas para divulgar a existência de “Gremlins 3”, projeto que o diretor busca fazer acontecer desde sempre e que foi tema recorrente em sua participação na CCXP.
Mas os momentos mais interessantes do painel aconteceram quando Teixeira pôde abordar os projetos que ele e a RT estão conduzindo às telonas. O foco, claro, foi nas produções que poderiam envolver de alguma forma o público do auditório: ao invés de novos projetos de diretores badalados do circuito como Olivier Assayas, Mia Hansen-Løve e Karim Aïnouz, a apresentação sobrou na divulgação de “Ad Astra”, o novo longa de James Gray que é uma ficção-científica estrelada por Brad Pitt, e “The Lighthouse”, o novo terror de Robert Eggers, além de menções pontuais a produções de gênero como “Patti Cake$ 2”, o novo horror de Gabriela Amaral de Almeida e até mesmo a cinebiografia de Emicida dirigida por Aly Muritiba. O que Teixeira não tinha de material para trazer à Comic Con (ele não teve autorização dos outros estúdios e produtores) ele compensava no pitch dos projetos, fosse descrevendo as histórias ou na menção aos livros que o estúdio possui os direitos agora – a quantidade de obras “compradas” pela empresa, diga-se de passagem, é impressionante e inclui os três trabalhos de Raphael Montes.
De novidade mesmo, porém, só alguns detalhes das produções dos trabalhos de Gray e Eggers. Enquanto a premissa de “Ad Astra” foi explicada como uma história onde o protagonista viaja no espaço em busca do pai (interpretado por Tommy Lee Jones) junto de uma tripulação que quer matar o velho, Teixeira também confirmou que “The Lighthouse” se passará nos anos 40 e contará com uma fotografia em preto e branco de Hoyte van Hoytema, o diretor de fotografia de “Dunkirk”
e outros projetos de Christopher Nolan. Para os cinéfilos estas eram informações a serem celebradas com gosto, mas ao público do auditório Cinemark a ausência de maiores materiais ajudou a tornar a apresentação da RT Features um tanto burocrática – o que é uma pena.
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