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Em “O Estranho que Nós Amamos”, Sofia Coppola filma medo e desejo

Sexto longa-metragem da diretora conta uma história já conhecida pelo olhar das mulheres

por Virgílio Souza

⚠️ AVISO: Contém spoilers

Existem duas adaptações para o cinema do romance “O Estranho que Nós Amamos”, escrito pelo americano Thomas Cullinan há pouco mais de meio século: a primeira, de 1971, fruto da duradoura parceria entre o diretor Don Siegel e o ator Clint Eastwood, e a segunda, recém-lançada, comandada por Sofia Coppola. Ambas partem de uma premissa semelhante, mas tomam rumos bastante diferentes e chegam a resultados também muito distintos, revelando algumas das virtudes e fraquezas de seus realizadores pelo caminho.

A trama tem início quando o cabo McBurney (agora interpretado por Colin Farrell) é encontrado gravemente ferido num bosque por Amy (Oona Laurence) e levado para receber cuidados em uma escola reservada para garotas. O contexto é o trecho final da Guerra de Secessão, que levou os homens daquela área do estado da Virgínia, deixando Martha (Nicole Kidman) com a responsabilidade de tomar conta do pequeno grupo de jovens ao lado da professora Edwina (Kirsten Dunst).

A chegada daquele homem ao casarão causa ruído entre as moradoras desde o início, quando elas discutem se devem oferecer ajuda ou entregá-lo imediatamente aos soldados confederados — afinal, embora seja um estrangeiro que não luta por patriotismo, ele faz parte do exército da União. Nesse momento já é possível identificar a principal mudança em relação ao filme de Siegel e Eastwood. Diferente da primeira adaptação, o roteiro de Coppola assume a perspectiva das mulheres, e o foco se volta para as duas adultas e Alicia (Elle Fanning), a mais velha entre as estudantes.

Sofia Coppola no set

As relações de poder entre homens e mulheres se mantém na origem do conflito, mas o que importa é a maneira como as três personagens lidam com a presença desse estranho após terem sido, por anos, reféns do isolamento causado pela guerra. Nesse sentido, o longa mais recente segue a linha da filmografia de sua diretora: sua abordagem se interessa sobretudo pela subjetividade das protagonistas, com diferentes idades, posturas e personalidades. Medo e desejo se manifestam de formas variadas, pelo retraimento ou pelo flerte, e o trabalho das atrizes é fundamental para que cada uma delas traga novas questões à mesa.

Na prática, porém, essa proposta intimista leva Coppola a deixar de lado uma série de elementos relevantes sobre o contexto em que a trama se desenrola. Em diversos momentos, a ligação entre o que ocorre dentro e fora da casa parece frágil, como se os eventos externos (os efeitos mais imediatos da guerra) não tivessem força suficiente para ultrapassar suas paredes. Parte disso tem relação com a firmeza com que Martha dirige a escola: por mais que tenha sua parcela de responsabilidade no desandar da carruagem, na maior parte do tempo seu senso de proteção dá conta de manter as garotas seguras diante das ameaças.

A proposta intimista leva Coppola a deixar de lado uma série de elementos relevantes sobre o contexto em que a trama se desenrola

O problema é que a tensão entre os personagens depende também das circunstâncias em que eles se encontram; não é produto apenas do confinamento e da pulsão sexual que se instala ali. A pressão do conflito que ocorre longe do internato, no entanto, fica restrita a um conjunto de falas que parecem mais interessadas em justificar omissões do roteiro do que em alimentar a trama. Isso vale tanto para a controversa ausência de personagens negras, explicada de passagem logo no início do filme, quanto para as dinâmicas entre o Sul e o Norte, reduzidas a uma porção de “sulistas” e “ianques” espalhados pelos diálogos, sem nunca alcançar um senso de consequência real.

Sofia Coppola opta por encarar a realidade à distância, concentrando-se numa proposta estética

O filme de Siegel tinha início com fotografias de época desgastadas, recorria a flashbacks que mostravam o impacto do conflito naqueles personagens e colocava o intruso e soldados confederados frente a frente. Mesmo na estranha e obsessiva relação de Martha (antes interpretada por Geraldine Page) com o irmão era possível sentir o peso da guerra, responsável por levá-lo para longe dela. Já Coppola opta por encarar essa realidade à distância, concentrando-se numa proposta estética que é suficiente para transportar o espectador para aquela casa, mas nunca para aquele mundo num sentido mais amplo.

É verdade que algumas alterações em relação ao longa de 1971 fazem todo sentido. A subtrama incestuosa e a sequência em que McBurney beija Amy, por exemplo, não pertencem à adaptação da diretora. De todo modo, é uma pena que os cortes do roteiro mais recente cheguem também ao conteúdo histórico da obra e façam com que a imersão na época seja baseada somente nas aparências, no modo de falar e nos figurinos cuidadosamente desenhados. Tudo isso é definido com precisão e beleza, mas será o bastante para estabelecer uma conexão emocional maior com aquele universo?

“O Estranho que Nós Amamos” impressiona quando a sedução tem consequências incontornáveis

Totalmente centrada no desejo das protagonistas, a fotografia de Philippe Le Sourd enquadra Martha, Edwina e Alicia contra janelas em ambientes cheios de fumaça, e a luz natural que bate suavemente sobre seus corpos forma silhuetas que são tão elegantes quanto frias. Os méritos visuais do filme se tornam mais evidentes à noite, quando a iluminação limitada a velas e lamparinas cria uma atmosfera de claustrofobia e imprevisibilidade que auxilia Coppola na missão de esconder as motivações de suas criaturas e preparar as viradas do roteiro.

São os momentos de choque que dão peso ao filme: o tiro que derruba um candelabro, levando a uma atitude espontânea de uma das garotas, e o trecho quase gore em que elas precisam tomar uma decisão definitiva são exemplos disso. Infelizmente, esses instantes são raros e, no restante do tempo, a câmera insiste em buscar constantemente imagens evocativas, mas que pouco carregam além de beleza superficial, nos jardins ou nos grandes cômodos da casa.

“O Estranho que Nós Amamos” impressiona quando a sedução tem consequências incontornáveis, capazes de prender o espectador e colocar à prova as verdadeiras intenções dos personagens. No entanto, a dificuldade que o filme tem de aceitar que sua maior força não vem do estilo calculado e dos planos milimetricamente compostos torna a experiência estéril e um tanto frustrante — adjetivos difíceis de perdoar quando se fala de um filme sobre atração.

nota do crítico

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